O Dia das Crianças é celebrado em muitos países, no entanto, em datas diferentes. No Brasil, essa data foi escolhida a partir de um evento que aconteceu no Rio de Janeiro, o 3º Congresso Sul-Americano da Criança e, no ano seguinte, o deputado federal Galdino do Valle Filho elaborou um projeto de lei que pretendia estabelecer o 12 de outubro como Dia das Crianças. Em 5 de outubro de 1924, foi publicado o decreto que determinava a data oficial para comemoração do Dia das Crianças.
É importante sabermos, no entanto, que as comemorações não passaram a acontecer imediatamente. Foi somente em 1955 que essa data passou a ser celebrada após uma campanha de marketing da Estrela (indústria de brinquedos). Com o objetivo de alavancar a venda de brinquedos, empresários dessa indústria se juntaram e revitalizaram essa data.
Trago esse breve histórico para que possamos refletir sobre algo que considero bastante importante: celebrar a infância é verdadeiramente uma oportunidade de valorizarmos esta etapa da vida, fazermos memória de quanto se aprende e se explora nela, da importância que têm as brincadeiras, estímulos, afetos e vivências neste momento em que o caráter está sedo sedimentado e as bases da pessoa estão se estruturando.
Como é importante que se viva intensamente a infância e que se tire dela o melhor: que as crianças possam brincar, ter suas necessidades básicas atendidas, que possam estudar, que tenham acesso a uma alimentação saudável e moradia digna, que encontrem em seus pais o amor e orientação de que precisam para aprender a viver, uma vez que chegam ao mundo sem a mínima possibilidade disso sozinhas.
Entretanto, me pergunto sempre: será que comemorarmos esta data com tantos presentes, especialmente brinquedos, não está muito mais a serviço de mantermos a indústria de brinquedos do que de valorizarmos, de fato, a infância?
Quantos modos mais criativos e verdadeiramente mais significativos temos para celebrar esse dia: fazer um passeio diferente (uma trilha num parque, uma visita ao zoológico, um piquenique); preparar uma festa das crianças juntando algumas famílias amigas (gincanas, brincadeiras, piscina, jogos); fazer uma oficina de brinquedos caseiros (construir ‘vai e vem’, chocalhos, garrafas coloridas, carrinhos de lata, barangandã, pipas, estilingue, carrinho de rolemã), uma peça de teatro, uma contação de histórias em alguma livraria diferente… enfim, seriam muitas as possibilidades de fazermos desta data, de fato, um dia diferente, que marcasse a memória dos pequenos e fizesse diferença em suas vidas.
Claro que as crianças gostam de ganhar brinquedos, mas minha experiência me mostra que acabam tendo tantos que mal se divertem com a quantidade excessiva que têm. Brincam por algumas horas, talvez alguns dias, e depois tais brinquedos entram para a coleção que se amontoa em caixas e armários.
Muitas vezes, sem perceber, estamos estimulando o afã materialista que já é forte em nossa sociedade hoje e esquecemos de ensinar que há muito mais valor em nos darmos ao outro do que em darmos algo a ele. Nossas crianças já têm muito – muitos brinquedos, muitos eletrônicos, muitas escolhas, muitas oportunidades –, no entanto, muitas carecem de experiências verdadeiramente dignas de uma infância saudável, de contato com a natureza, de experiências simples que trazem muita alegria. Que maravilha se esse dia for uma oportunidade de perceberem que há muito mais felicidade no ser do que no ter. Que há muito mais alegria escondida nos bens que são compartilháveis (conversas, convívio, carinho, sorrisos, experiências) do que nos bens que se repartem (qualquer tipo de bem material). Os primeiros se multiplicam quando compartilhamos, os outros se dividem, acabam, quebram…tornam-se dispensáveis.
Pensem com carinho nisso, papais e mamães. Que este Dia das Crianças fique marcado como aquele em que o ser presente foi mais importante do que o dar presentes.