‘É aos humildes que Ele revela seus mistérios’

Uma das qualidades humanas mais elogiadas por Deus é a humildade. Por três vezes, a Escritura diz que “Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes” (Pr 3,34; Tg 4,6; 1Pd 5,5). Nosso Senhor, no Evangelho, o confirma: “Quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14,11). Depois da fé, da esperança e da caridade, a humildade é a virtude mais importante. Peçamo-la ao Senhor! Ela é fundamento das demais virtudes. Permite-nos ver quem realmente somos, o que temos de bom, o que temos de mal. Faz-nos reconhecer a imagem e o amor de Deus presentes em nós. 

O humilde não se deslumbra com os próprios êxitos, pois os atribui antes de tudo ao Senhor; tampouco desanima com os fracassos, nem se desespera ao notar suas misérias e defeitos. Não se compraz em elogios e detesta os louvores imerecidos. Olha para suas qualidades serenamente, reconhecendo-as como dons. Recebe críticas com gratidão e sabe aproveitar as que são justas, pois “com ouvido atento, deseja a sabedoria” (Eclo 3,31). 

Sabe “sentar-se no último lugar” (Lc 14,10) e não se sente merecedor de privilégios ou atenções especiais. Não quer se singularizar, nem se julga diferente dos outros homens. Ao mesmo tempo, porém, sabe exigir direitos no momento certo. Não guarda rancor ao ser tratado com injustiça, mas não receia levantar a voz, quando outros são tratados com iniquidade. Aceita humilhações com paciência, tendo diante dos olhos apenas o juízo de Deus, de quem espera receber “a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,14). Tem como hábito escolher para si o pior, sempre que a escolha passe inadvertida e beneficie a outrem. 

Não se faz de vítima das circunstâncias e não culpa os demais por suas frustrações. O humilde “descomplica” a sua alma, pois não pensa muito em si mesmo. Não vive preso num emaranhado de juízos conflitantes, nem à deriva de suas impressões momentâneas. Assim, saboreia uma constância de ânimo, uma paz e uma alegria especiais. Afinal, como diz Santa Teresa, a humildade é a verdade no caminho ascético. 

Nossa santificação nesta vida e o Purgatório consistirão, em grande medida, na aquisição da humildade. Por meio da exposição intensa à luz e à verdade divinas, Cristo arrancará nossas máscaras, mentiras e duplicidade. Somente assim, purificados de toda soberba, vaidade e orgulho, poderemos viver inteiramente do seu amor. Só aos humildes é concedido conhecer a Deus e possuir vida interior, pois “é aos humildes que Ele revela seus mistérios” (Eclo 3,20). 

A humildade é virtude de santos. Não é característica de fracos, mas dos gigantes: “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade” (Eclo 3,20). É a virtude Daquele que disse “aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). A humildade de Maria maravilhou a Deus, que a tornou bendita por todas as gerações (cf. Lc 1,48). De fato, “grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes” (Eclo 3,21). 

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