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‘É necessário que o Filho do Homem seja levantado’ (Jo 3,14)

Segundo uma antiga prescrição da Lei, se algum malfeitor fosse condenado à morte publicamente, deveria ter o corpo enterrado antes do anoitecer, a fim de não amaldiçoar a terra, pois “é maldito todo aquele que é suspenso no madeiro” (Dt 21,23 LXX). A morte infamante, sobretudo quando seguida da exposição vexatória do corpo, era compreendida pelos judeus como uma maldição divina. Pois bem, a fim de cancelar a verdadeira maldição que paira sobre os homens – isto é, o pecado, que leva à perda da comunhão com Deus e à condenação eterna – Jesus aceitou sofrer a morte vergonhosa. E não somente: Ele ainda teve o Seu Corpo inocente torturado, desfigurado, despido e suspenso na Cruz. 

Esse ato de humilhação, no entanto, tornou-se verdadeira glória para o Senhor: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” (Fl 2,8-9). São Paulo afirma que Cristo tornou-Se maldição para nos salvar, a fim de que, por meio de Sua Morte, a bênção divina pudesse alcançar, mediante a fé, a todos os homens (cf. Gl 3,13). Assim, a imagem de Jesus Cristo suspenso na Cruz torna-se símbolo da salvação do homem prostrado pelo pecado. A maldição do madeiro converteu-se em bênção; a humilhação em exaltação

Além disso, segundo as palavras do Senhor “ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). Cristo morto no patíbulo tornou-Se também sinal do amor infinito de Deus por cada um de nós. Sua Morte tornou-se símbolo da vida! Assim, compreendem-se as palavras do Senhor: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que Nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,14-15). A elevação da imagem da serpente de bronze no deserto serviu aos israelitas como soro contra as serpentes venenosas; a exaltação de Cristo na Cruz serve para curar a todos do veneno da morte. Afinal, a morte entrou no mundo por causa do pecado (Rm 5,12) e por instigação da serpente maligna (Sb 2,23); ao olharmos para Cristo crucificado e crermos Nele, recebemos o antídoto contra os maiores de todos os males. 

Por isso, a pregação da Igreja desde o início se baseia sobre a Morte redentora de Cristo! São Paulo afirma: “Anunciamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas, para aqueles que se salvam, poder e sabedoria de Deus” (1Cor 1,23-25). A Cruz é o nosso sinal! Para quem não crê ou não ama, ela é indesejada, inconveniente, desagradável, exagerada etc. Para quem ama e crê, a Cruz é o doce sinal da salvação, um escudo e – como afirma um velho hino – nossa única esperança. Por isso, o Apóstolo acrescenta: “Entre vós, não julguei conhecer coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e Ele crucificado!” (1Cor 2,2). Neste dia, a Igreja canta: “Em ti, ó Cruz, a vida fere a morte, morte que à vida conduz”! 

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