A juventude e sua participação social e política

Estamos em uma sociedade em permanente mudança. Até a ideia de que “não vivemos uma época de mudanças, mas, sim, uma mudança de época” já ficou para trás. As épocas já mudaram, de certa forma a própria “pós-modernidade”, tão falada até uns anos atrás, deu lugar a um novo tempo – no qual a própria mudança se tornou uma constante. O mundo está mudando o tempo todo, a uma velocidade que torna as transformações evidentes a nossos olhos. Anteontem não havia redes sociais; ontem uma delas era a mais famosa; hoje pela manhã era outra; à tarde, uma terceira; e já se especula que um novo modelo, diferente de todos esses, poderá ser o hegemônico amanhã…

Para os jovens, essa é a realidade tal como sempre conheceram, fascinante e desafiadora, cheia de momentos tanto de entusiasmo quanto de depressão. Sabem-se herdeiros de um mundo em que geralmente não gostariam de viver, convocados a construir uma nova sociedade que não sabem muito bem como deve ser. Enquanto isso, os adultos procuram se orientar em meio a essa realidade mutante, uns querendo desfrutar ao máximo dos privilégios que acumularam, outros assustados com as injustiças e desigualdades que parecem se acumular cada vez mais. Os velhos problemas não se resolveram plenamente, alguns estão muito longe de serem solucionados e há novos surgindo e crescendo. 

A reflexão crítica costuma ser muito sagaz quando se trata de evidenciar as questões do passado, mas pouco efetiva para encontrar soluções. Ser jovem nunca foi fácil. Talvez seja mais prazeroso e confortável em nossos tempos, com as possibilidades das novas tecnologias e a explosão de novos direitos, mas continua tão ou mais difícil do que antes.

Entender a juventude, saber acolhê-la e mostrar-lhe caminhos tanto de realização pessoal quanto de construção do bem comum estão entre os maiores desafios das comunidades cristãs na atualidade. As Jornadas Mundiais da Juventude – como a que ocorrerá neste mês em Lisboa, Portugal – são ocasiões privilegiadas para um grande encontro festivo entre os jovens e a Igreja, mas também são uma oportunidade para que todos os católicos reflitam sobre os dramas e os encontros da juventude atual. Cientes desse fato, apresentamos nessa edição um Caderno Fé e Cidadania dedicado à participação social e política da juventude. Em quatro artigos de Opinião, trazemos testemunhos e reflexões sobre a diversidade de caminhos da juventude atual; além de apresentarmos uma pequena análise das mudanças nas formas de participação política juvenil nas últimas duas décadas.

“É verdade que às vezes perante um mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem correr o risco de se fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios da vida em sociedade, de um mundo vasto, estimulante e necessitado. Eles têm a sensação de viver o amor fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu. Isto agrava-se se a vocação do leigo for concebida unicamente como um serviço interno da Igreja (leitores, acólitos, catequistas etc.), esquecendo-se que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a construção de uma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo” (PAPA FRANCISCO. Christus Vivit, CV 168). 

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