Cristãos alegres, afetuosos e compreensivos

Pelo Batismo, nós, cristãos, somos chamados a imitar Jesus Cristo, a nos parecer com Ele. “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”, diz-nos São Paulo. É uma meta audaciosa – e seria absolutamente pretensiosa, se contássemos apenas com nossas forças. Mas Deus não apenas nos chama, como nos oferece os meios para nossa santificação; muito especialmente os sacramentos. Alta é a meta, mas não impossível.

Com a ajuda de Deus, podemos! Esse grito de esperança – que, repita-se, não se apoia nas nossas forças, mas na graça divina – deve levar a nos questionarmos. Estamos nos aproximando da meta? Estamos de fato, à medida que avança a nossa vida, parecendo-nos mais com Jesus Cristo? Trata-se de uma pergunta íntima, pessoal. Não são os outros que devem responder. E, a rigor, nem mesmo nós próprios. Devemos encaminhar essa pergunta a Deus. Como recorda São Paulo, “quem me julga é o Senhor”.

Deus é o grande feitor da nossa santificação, mas isso não significa que sejamos espectadores passivos. Deus nos quer protagonistas da nossa vida, colaboradores ativos da nossa santificação. “Aquele que te criou sem ti não te salvará sem ti”, lembra-nos Santo Agostinho. Ou seja, nós também somos responsáveis por nossa identificação com Cristo.

E o que significa se parecer com Jesus Cristo? Perfeito Deus e perfeito Homem, Ele reúne em Si todas as virtudes e qualidades, divinas e humanas. Frente a nossas muitas limitações e defeitos, a perfeição de Jesus pode nos levar a uma situação de perplexidade. Por onde devemos começar? O que é mais importante? Jesus mesmo nos dá a resposta: “Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis-vos amar uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”.

A caridade é, deve ser, a virtude que nos identifica como cristãos. Por isso, ao nos perguntarmos se estamos nos aproximando da meta, devemos pedir, na oração, luzes a Deus para examinar a nossa caridade, a nossa relação com o próximo. Em algumas circunstâncias, essa excelência na caridade pode nos parecer muito distante de nossa vida diária, tantas vezes preenchida por outros hábitos, outras preocupações, outras urgências.

Sempre, mas especialmente nessas horas, devemos olhar para Jesus Cristo, para não perder de vista o que significa, na prática, imitá-Lo. O ideal cristão não está desvinculado de nossa vida corrente, de nossas ocupações diárias. E aqui convém recordar o que vemos ao longo de todo o Evangelho. Jesus Cristo é perfeito Homem, com uma humanidade riquíssima, agradabilíssima, amorosíssima – que atrai, que encanta, que emociona. 

Imitar Jesus – crescer em caridade – é, portanto, encaminhar-se na vida para sermos, com a graça de Deus, pessoas realmente carinhosas, que transmitem paz e compreensão ao seu redor. Na família e na vida pública, no trabalho e nas férias, nos dias úteis e nos fins de semana – em todas as situações da vida.

O ideal cristão não tem nada de carrancudo, severo, distante, solitário, emburrado, triste. Deus nos chama a lutar seriamente contra nossos defeitos – a enfrentar, com a Sua graça, os vícios que nos afastam de Deus e das pessoas –, para sermos humilde e luminosamente pessoas encantadoras. “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo”, convida-nos Jesus.

A proposta cristã não é, portanto, agregar novas e cada vez mais difíceis exigências à nossa vida, que estariam a reclamar um esforço hercúleo. É realizar, com a ajuda de Deus, esse profundo ideal de humanidade e caridade que levamos no coração. Pessoas amáveis e alegres, realmente encantadoras, que difundem, com uma incrível naturalidade (dada pelas virtudes teologais e humanas), paz e calor onde estão. Essa é a chamada de Deus para cada um de nós.

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