Deus vem

No domingo, 3 de dezembro, a Igreja Católica inicia o Advento, tempo litúrgico de quatro semanas em preparação para a celebração do Natal do Senhor.

O nome deste tempo tem sua origem na palavra latina Adventus, que significa “vinda, chegada”. Neste período, celebram-se as três misteriosas etapas da história da salvação. A primeira é a antiga expectativa dos patriarcas, relacionada com a vinda do Messias, que se encerra com a encarnação, Morte e Ressurreição do Filho de Deus. A segunda etapa diz respeito ao presente da salvação em Cristo, realizada no mundo, mas ainda não complementada. Por fim, o futuro da salvação, que se revelará na transformação do mundo no fim dos tempos.

Quando a Igreja celebra o mistério da vinda do Senhor, não usa o tempo verbal no passado – Deus veio – nem no futuro – Deus virá – mas no presente: “Deus vem”. Trata-se de um presente contínuo, ou seja, uma ação que se realiza sempre: está a acontecer, acontece agora e acontecerá também no futuro. A todo momento “Deus vem”.

Essa certeza da presença do Senhor deveria ajudar a ver o mundo com olhos diferentes. A esperança marca o caminho da humanidade, mas, para os cristãos, é animada por uma certeza: o Senhor está presente ao longo da nossa vida, acompanha-nos e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus.

Essa espera do Senhor que vem chama todos os cristãos a uma atitude de vigilância, como expressa o Evangelho deste 1º Domingo do Advento (Mc 13,33-37), no qual Jesus exorta os discípulos a ficarem atentos, “porque não sabeis quando chegará o momento […]; vigiai, para que não suceda que, vindo de repente, Ele vos encontre dormindo”.

Ao refletir sobre a vigilância no Angelus de 3 de dezembro de 2017, o Papa Francisco destacou que a vigilância é condição para permitir que Deus irrompa na existência humana, para lhe restituir significado e valor com a sua presença.

Concretamente, o Advento é tempo oportuno para se aproximar mais do Senhor e estreitar os laços com Ele, em primeiro lugar, por meio da oração pessoal. É ocasião para intensificar a participação nos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Reconciliação. E mesmo àqueles que não podem participar da Santa Missa ao longo da semana, recomenda-se que meditem sobre as leituras bíblicas de cada dia, que são um verdadeiro retiro espiritual de preparação para o Natal.

Em família, além dos momentos de oração comum, como a récita do Terço, a Novena de Natal e a leitura orante da Bíblia, símbolos como a coroa do Advento e o presépio ajudam as pessoas e viverem em profundidade esse rico período da vida da Igreja. Na carta apostólica Admirabile signum, publicada em 2019, o Papa Francisco afirma que a representação do presépio “ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a nos sentirmos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”.

A devoção mariana tem especial lugar no Advento, quando os fiéis se unem à Mãe de Deus na espera do nascimento do Salvador. Um desses símbolos são as antífonas de Nossa Senhora da Expectação, invocadas na liturgia dos nove dias que antecedem o Natal, que, pelo fato de se iniciarem com a exclamação “Ó”, deram origem ao título mariano de Nossa Senhora do Ó.

Por fim, tomemos as palavras do Papa Francisco em uma publicação no Twitter (atual X), em 17 de dezembro de 2022: “Que Nossa Senhora nos pegue pela mão nestes dias de preparação para o Natal e nos ajude a reconhecer na pequenez do Menino a grandeza do Deus que vem!”

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