Onde estás, Senhor?

O pai de família viaja ao estado vizinho, com a esposa e os filhos, para o casamento do cunhado. De repente, chuvas torrenciais, acessos bloqueados, e a água subindo ameaça engolir a casa onde se hospedam. O pai sai em busca de um caminho seguro para evacuar sua família – mas vê-se encurralado pelas águas, e, agarrado numa árvore, manda uma última mensagem de amor à família, antes de ser levado pela enxurrada. Onde estavas, Senhor?

O helicóptero sobrevoa a casa, onde duas pessoas completamente ilhadas em meio ao turbilhão estão prestes a ser salvas pelo telhado. De repente, a estrutura desaba, levando consigo as vítimas. Onde estavas, Senhor?

Em todo o Rio Grande do Sul, já há pelo menos 149 mortos em razão dos temporais e cheias e 124 desaparecidos, 90% dos municípios afetados pelos alagamentos, com mais de 2,1 milhões de pessoas afetadas e 617 mil desalojados, dos quais 81 mil em abrigos com estranhos.

Onde Eu estava? Pois deixe-me dizer onde Eu estava. Eu estava inspirando coragem e autodoação aos milhares de voluntários e socorristas que colocaram a própria vida em risco para salvar os isolados – como aquele porto-alegrense de 59 anos que, só com seu caiaque e mesmo sem saber nadar, salvou centenas de pessoas, inclusive um idoso de 90 anos. Era Eu quem lhe dava a força de acordar às 4h30 e passar o dia inteiro remando, confortando os corações abatidos com a leveza de um sorriso: “Já esteve em Veneza? Não? Eu também nunca fui. Mas olha, aqui, o barqueiro vai te conduzir, querido. Vai tranquilo.” Eu estava também nos milhares e milhões de brasileiros que, do País inteiro, formaram uma corrente do bem, salvando vidas com doações de água, alimentos e suprimentos básicos.

Vou dizer, também, onde estava minha Mãe. Ela não deixava por um minuto cada um dos isolados e ilhados, cada um dos que sentiam o coração na mão perante as águas estrondosas. Foi com ajuda dela que aquele pai de família, assim como eu, passou os últimos momentos de vida agarrado a um lenho, e mandou uma última mensagem à sua família, pedindo às filhas que cuidassem da mãe, mostrando uma heroica confiança no Pai: “Só por Deus, só por Deus!”. Minha Mãe também apresentava a meu Pai cada uma das alminhas que partia: “São filhos meus, Senhor! Rogo a Ti por eles!”. E consolava a dor dos familiares, dos que perderam tudo, dos que se viam sem chão.

Não queiras saber de coisas que estão além de teu entendimento, nem encontrar os “culpados” nessa história. As vítimas desta tragédia não são nem melhores nem piores do que os 18 da torre de Siloé (cf. Lc 13,1-5) – não são melhores nem piores do que você. Sempre que o Pai permite um mal, Ele consegue tirar um bem maior – seja você um instrumento para este bem! Ajude as vítimas com mantimentos, com recursos, mas também com orações e jejuns! A vida verdadeira, a vida que importa, está no Céu – onde, pela graça e misericórdia de Deus, alguns desses irmãos vitimados pelas inundações um dia o receberão de braços abertos: “Obrigado, meu irmão, pelo apoio que me deu!”.

Foto: Vatican News

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