Podemos ser melhores nas redes sociais

Às vezes, na intenção de manifestar nosso repúdio com algo que encontramos na internet, corremos para repassar um conteúdo. Talvez sem saber se é verdade, mas, independentemente, alimentados por uma ira muito verdadeira. Às vezes de forma contida, mas outras nem tanto, nos engajamos. Reagirmos de forma impulsiva a qualquer coisa que nos provoque emoções exacerbadas nas redes sociais. E nos comportamos exatamente como não deveríamos, de forma desumana.

Passamos a ser parte de um movimento friamente calculado: um algoritmo, um dado qualquer que um cientista ou especialista em marketing digital pensou em seu “lab” como parte de uma estratégia de controle de mercado, de manipulação política ou de mero consumo. Reagimos de maneira aparentemente natural a um estímulo artificial, e de forma bem pouco inteligente. Não paramos para pensar que, talvez, sejamos vítimas de uma armadilha digital.

A Igreja nos convida, nas redes sociais, a ser “reflexivos, não reativos”. Essa ideia, entre outras, foi apresentada na segunda-feira, 29, em documento inédito do Dicastério para a Comunicação intitulado “Rumo à presença plena: Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”. Foi assinado pelo Prefeito do Dicastério, Paolo Ruffini, e pelo secretário, Mons. Lucio A. Ruiz, mas é, na verdade, fruto de uma ampla consulta a especialistas, jovens comunicadores e educadores.

Já não se trata mais “se”, mas “como” os cristãos e a Igreja devem participar no mundo digital. Por trás das nossas telas de celular e de computadores há sempre outra pessoa, lembra o documento: “a boa comunicação começa pela escuta e a consciência de que outra pessoa está diante de mim.”

Outro como nós, com cabeça, coração e amado por Deus. Ao responder a pergunta sobre como devemos nos relacionar de forma autêntica e profunda nas redes sociais, o documento não apresenta uma série de normas nem manual. Apresenta um modelo: o do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), da parábola narrada por Jesus quando perguntado: “Quem é o meu próximo?”

Cabe a nós, então, perguntarmos a Ele: “Quem é o meu próximo nas redes sociais?” E a resposta já sabemos. Mas a forma como temos nos comportado nas redes sociais nem sempre é compatível com o Evangelho de Cristo. É preciso estar mais atentos.

Primeiro, nossos comportamentos individuais, nas redes, podem ser mais orientados à pacificidade e à escuta. É preciso ver no “outro” digital o rosto de Cristo, para que também o meu rosto possa refletir do d’Ele.

“Deveríamos recordar que tudo o que compartilhamos nas nossas postagens, comentários e likes, com palavras pronunciadas ou escritas, com filmes ou imagens animadas, deveria estar em sintonia com o estilo que aprendemos com Cristo, que transmitiu sua mensagem não apenas mediante discursos, mas com todas as atitudes da sua vida, revelando que a comunicação, no seu nível mais profundo, reside na oferta de si mesmo no amor”, diz o texto.

É preciso aprender mais sobre o funcionamento das redes, para não cair em “ciladas”. Quem as controla? Quais as estratégias usadas? O que eles querem de mim? É preciso evitar o isolamento e a indiferença, indo além dos próprios interesses, superando a lógica das “bolhas”, um círculo de pessoas parecidas que se afastam das diferentes.

É preciso lembrar, ainda, que muitos não estão nas redes. O mundo é maior do que a tela do celular. Para falar das coisas, é preciso conhecê-las. E isso passa pela experiência de vida, pelos livros, pelo diálogo com os pobres e especialmente com os mais velhos. Para conhecer melhor as coisas é preciso ouvir a Deus, que se comunica conosco de maneira especial no silêncio, na oração, na contemplação e na adoração. Às vezes, para entrar em uma relação mais profunda, é preciso se desconectar.

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