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Um caminho de respeito à natureza em meio à urbanização

Com a proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém (PA), em novembro, crescem as reflexões sobre como as atividades humanas têm degradado o meio ambiente. Um “termômetro” do desequilíbrio desta relação homem-natureza é o constante aumento da temperatura global, com impactos sobre a fauna e a flora de diferentes localidades, bem como na qualidade de vida das pessoas. 

A defesa de um ambiente íntegro e saudável para todos é um apelo recorrente da Igreja. Na encíclica Laudato si’, em 2015, o Papa Francisco lembra que, pelo fato de todas as criaturas estarem interligadas, “deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma, e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros”. Também o Compêndio da Doutrina Social da Igreja indica que “uma correta concepção do ambiente, se, de um lado, não pode reduzir de forma utilitarista a natureza a mero objeto de manipulação e desfrute, por outro lado, não pode absolutizar a natureza e sobrepô-la em dignidade à própria pessoa humana” (CDSI 463), e aponta serem deploráveis as intervenções do homem que “danificam os seres viventes ou o ambiente natural, ao passo que são louváveis quando se traduzem no seu melhoramento” (CDSI 473).

Cidades como Medellín (Colômbia), Guadalajara (México) e Mumbai (Índia) têm buscado melhorar a relação de seu ambiente urbano com a natureza local, por meio da criação de corredores ecológicos – que interligam os remanescentes de um bioma em determinado território – e de corredores verdes – que conectam as diferentes áreas verdes da cidade, como praças e parques, a partir da formação de um caminho para a passagem da fauna com o plantio de arbustos e árvores. O saldo dessa iniciativa é de ganhos para todas as partes: com a preservação/recomposição da flora, os animais voltam a transitar pelos biomas, estes se tornam mais resilientes aos eventos climáticos extremos, e os seres humanos se beneficiam, tendo cidades com menos poluição atmosférica, temperaturas mais amenas e uma paisagem cênica mais bela. 

Os corredores verdes e ecológicos começam a se tornar uma realidade também em São Paulo, impulsionados por resoluções do poder público como o Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (Planpavel), de 2022, e, principalmente, pela mobilização dos moradores, como nos casos do “Corredor Verde do Butantã”, iniciado em 2023, e do “Corredor Ecológico Corinthiano”, cujo primeiro plantio de mudas ocorreu em junho em Itaquera, na zona Leste. Todas estas experiências estão reportadas no Caderno Laudato si’ – Por uma Ecologia Integral, publicado nesta edição.

Os benefícios gerados pelos corredores verdes e ecológicos podem demorar alguns anos para serem percebidos e, por isso, é fundamental que o poder público e a população tenham constância em ampliá-los e mantê-los. Em Medellín, o projeto “Muros y Corredores Verdes” começou em 2016. Hoje, a cidade já se beneficia com a queda de 2ºC em sua temperatura média, melhorias na qualidade do ar e com o retorno da fauna silvestre ao ambiente urbano. 

Para além de bons ideais, iniciativas como os corredores verdes somente dão resultados efetivos se houver o compromisso coletivo de usar os saberes existentes em prol do bem comum, como foi destacado por São João Paulo II: “A humanidade de hoje, se conseguir conjugar as novas capacidades científicas com uma forte dimensão ética, será certamente capaz de promover o ambiente como casa e como recurso, em favor do homem e de todos os homens; será capaz de eliminar os fatores de poluição, de assegurar condições de higiene e de saúde adequadas, tanto para pequenos grupos quanto para vastos aglomerados humanos” (Congresso sobre Ambiente e Saúde, 24 de março de 1997).

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