Educação no Brasil hoje. E amanhã?

Arte: Sergio Ricciuto Conte

As escolas podem ser comparadas entre si por três elementos: os temas que apresentam ou deixam de apresentar aos alunos; os juízos de valor que emitem sobre esses temas; a forma como os apresentam. Por exemplo: as escolas podem abordar o tema família. Uma pode dar um juízo de valor enquanto outra dá outro completamente diferente. Uma pode usar uma forma de depoimentos de famílias, já outra pode apresentar textos com provas para nota tornando o assunto antipático para as crianças e jovens. Outra escola pode omitir o tema.

O que há de comum, entre todas as escolas, é a “cultura escolar” que se fundamenta na crença de que as pessoas são categoriza- das pela hierarquia de conhecimento que a sociedade reconhece como válida mediante a outorga de títulos. Desse modo, os alunos do segundo ano sabem mais do que os do primeiro e sucessivamente até chegar ao professor que “sabe tudo”. Assim, a escola se pro- põe para a sociedade como o lugar do saber válido e se acha capaz de falar de tudo.

Uma das lutas culturais de nosso tempo, a meu ver, que é estratégica, é o direito de fa- lar “com autoridade” sobre quem é o homem e que é a sociedade. Se esse direito for só da escola, a família e a Igreja perdem o espaço de protagonistas na formação das crianças e jovens.

A Educação tem como tarefa fundamental introduzir as crianças, os jovens e os estrangeiros em uma dada cultura. Uma boa cultura será aquela que garanta o desenvolvimento da vida com equidade, tendo em vista o conjunto da sociedade.

A visão antropológica condiciona o agir educativo do educador. Uma visão antropológica pode ser condensada em afirmações sobre o homem, de modo a responder à pergunta: Quem é o homem? Portanto, é fundamental oferecer aos educa- dores uma visão antropológica que apresente o educando como pessoa dotada de inteligência, liberdade e vontade, capaz de ser protagonista de sua própria vida, capaz de acolher a transcendência e conviver com seus semelhantes de forma cooperativa e amorosa.

Um consenso atingido pela comunidade educativa internacional indica como fins da Educação os quatro pilares propostos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos, a conviver com os outros; aprender a ser. Aprender a conhecer é ser introduzido na totalidade da realidade e, desse modo, perceber-se como pertencente a uma história que começou antes de mim. Aprender a fazer é descobrir o trabalho como forma de interação e construção social. Aprender a viver jun- tos, a conviver com os outros, é descobrir-se como pertencente a uma comunidade humana sem a qual eu não vivo. Aprender a ser é aprender a tornar-se pessoa, o que significa descobrir o que nos constitui, ou seja, o desejo de felicidade. A Educação consolida seu trabalho criando identidades humanas que condicionam o agir de cada pessoa. Cada ação educativa prepara o hoje e o amanhã da sociedade. A longa experiência da Igreja em viver em comunidades compostas por diversas gerações e diferentes estratos sociais é uma contribuição para todos os que buscam uma cultura fundada nos valores do Reino de Deus.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

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