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Em busca de redenção…

Os gregos o chamavam Héracles, os romanos de Hércules. De fato, nunca existiu. É apenas um personagem do imaginário mítico. Teria sido filho de Zeus (Júpiter para os romanos) e da mortal Alcmena. Por ser um filho bastardo, era odiado por Hera, esposa de Zeus. Era um semideus, tinha atributos humanos e divinos; dotado de uma força descomunal, tornou-se afamado e célebre por seus atos de bravura e inteligência. Mas, sua existência inflamava a ira de Hera, que um dia lançou sobre ele um feitiço que o levou a uma momentânea loucura, fazendo com que ele assassinasse a esposa Mégara e os próprios filhos, acreditando que estava matando seus inimigos. 

Depois disso, ele sentiu um enorme remorso e foi até o oráculo de Delfos pedir um conselho sobre o que devia fazer. O oráculo lhe disse para procurar Euristeu, rei de Micenas, e oferecer-lhe seus serviços. Mais uma vez, Hera interferiu na situação e manipulou Euristeu para que ele solicitasse somente tarefas impossíveis para Hércules. Então, o rei demandou 12 trabalhos a serem realizados. Cada um dos trabalhos constituía uma verdadeira aventura mortal. Mas, Hércules os realizou um por um e assim encontrou alívio para sua culpa e tornou-se renomado por ter “deixado o mundo seguro para a humanidade” ao destruir diversos monstros perigosos. 

Em um contexto diferente desse, mas com alguma semelhança, outro personagem eclodiu nos inícios do Cristianismo. Esse absolutamente real! Os judeus o chamavam Saulo, os romanos de Paulo. Nasceu em Tarso, era judeu, mas também tinha cidadania romana, provavelmente comprada por seus pais, comerciantes bem sucedidos. Vivia sob o orgulho de sua distinção como um religioso de vida exemplar. Dizia ele que era judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado em Jerusalém. Como discípulo do famoso Gamaliel, tinha sido instruído em todo o rigor da Lei Judaica e tornara-se zeloso da causa de Deus. Perseguiu até a morte os adeptos do Cristianismo, prendendo homens e mulheres e lançando-os na prisão. Tinha conseguido do sumo sacerdote e de todo o conselho dos anciãos cartas de recomendação para prender os cristãos que encontrasse em Damasco e trazê-los para Jerusalém, a fim de castigá-los (cf. At 22,3-5). Antes disso, tinha consentido na morte por apedrejamento de um dos cristãos que testemunhava sua fé, seu nome Estêvão (cf. At 7,54-80; 8,1). 

Paulo, porém, era amado por Cristo, que, durante o caminho da perseguição, já perto de Damasco, o envolveu com uma luz que vinha do céu. Paulo caiu por terra e ouviu uma voz de alguém que lhe perguntava por que o estava perseguindo. Quando Paulo perguntou sobre quem era o que pronunciara a pergunta, este respondeu que era Jesus a quem ele estava perseguindo. Paulo, então, perguntou sobre o que devia fazer. E foi orientado a entrar na cidade e alguém ali lhe diria o que deveria fazer. Ele saiu dessa visão sem poder mais enxergar. Em Damasco, um certo Ananias o procurou, impôs as mãos sobre ele, restitui-lhe a visão e o batizou. 

Dali para frente, Paulo começaria o seu único trabalho, sua aventura em busca de redenção. Não carregava remorso, mas sempre lamentou sobre o modo como procedera antes. Dizia que era o menor dos apóstolos, porque perseguira a Igreja de Deus, mas que, pela graça de Deus, era apóstolo e que a graça nele não tinha sido em vão porque tinha trabalhado mais do que todos os apóstolos, não ele propriamente, mas a graça de Deus que estava com ele (cf. 1Cor 15,9-11). Por toda obra evangelizadora de Paulo, o mundo foi tomado pelo conhecimento de Cristo, a grande fonte de Redenção para todos os homens. Para os cristãos, também Paulo ganhou o contorno de um grande herói mitológico, porém da vida real. Morreria como um corajoso homem forte que buscou a redenção e que enfrentou os perigos e a morte de maneira extraordinária. 

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