O Papa com os cardeais: por uma Igreja sinodal

No sábado, 27 de agosto, o Papa Francisco entregou as insígnias aos novos cardeais numa cerimônia significativa, que exprime aspectos importantes da vida da Igreja. Entre os novos purpurados, encontram-se também dois brasileiros: Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília, e Dom Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus, o primeiro cardeal na Amazônia brasileira. Sua nomeação traduz, certamente, a atenção privilegiada do Papa Francisco pela “querida Amazônia”. 

Os novos cardeais também foram acolhidos pelos demais membros do Colégio Cardinalício, do qual passam a fazer parte. Cada um dos novos recebeu uma igreja titular em Roma, para indicar sua pertença ao clero de Roma e sua proximidade com o Papa, que é o bispo da diocese de Roma. Na vacância da diocese de Roma, o Colégio Cardinalício deve reunir-se em conclave e escolher um novo bispo para a sede de Roma, que também será o Papa e Pastor universal da Igreja. Além dessa função, os cardeais são conselheiros do Papa no seu serviço constante à universalidade da Igreja. Por isso, eles são membros ou consultores de um ou mais Dicastérios da Cúria da Santa Sé, que é o organismo de ajuda e colaboração corresponsável de ajuda ao Papa. Diversos cardeais são colaboradores próximos ao Papa, como chefes de Dicastérios, membros do Conselho de Cardeais e de outros organismos da Cúria e da Santa Sé. 

Depois do Consistório público, para a criação dos novos cardeais, o Papa reuniu-se com os cardeais, nos dias 29 e 30 de agosto, em consistório propriamente dito, ou seja, somente o Papa com os cardeais. A reunião foi ocasião para os cardeais acolherem os novos membros do Colégio Cardinalício e se conhecerem melhor entre si. Mas o objetivo principal foi o de refletir sobre a Constituição apostólica Praedicate Evangelium (Pregai o Evangelho), sobre a reforma da Cúria Romana, publicada no dia 19 de março deste ano. A nova Constituição apostólica está na internet, ao alcance de quem deseje conhecê-la. Na reunião, os cardeais refletiram sobre os aspectos mais importantes do documento, que, após uma consulta ampla aos cardeais e aos episcopados do mundo inteiro, foi longamente preparado e amadurecido, com o auxílio do Conselho de Cardeais, que assiste ao Papa nas questões do governo da Igreja. 

A Constituição Praedicate Evangelium traz as diretrizes do Papa Francisco para a reforma da Cúria, que também deveriam servir como princípios para repensar os serviços de Cúria das dioceses e os serviços das Conferências Episcopais e outros organismos eclesiais de governo. Antes de tudo, define-se com insistência a natureza da Cúria (também diocesana) como um organismo de serviço; e aqueles que o exercem devem ter motivação e atitudes “diaconais”, ou seja, de servidores da Igreja na caridade, para o bem da Igreja, de sua vida e sua missão. 

Outra diretriz fundamental para os serviços de Cúria é a sinodalidade, que é uma característica própria da natureza da Igreja. A Igreja de Cristo é sinodal. Os serviços de Cúria devem ser orientados por espírito sinodal, promovendo a comunhão, a participação e a missão da Igreja, em constante atitude de conversão e fidelidade a Cristo e ao Evangelho. As consequências para o serviço de Cúria são a corresponsabilidade ativa no serviço prestado, no respeito ao princípio de subsidiariedade, às atribuições e aos dons de cada membro e servidor da Cúria. Não se compreende mais o trabalho isolado na Igreja, sem comunicação e corresponsabilidade. 

Enfim, o serviço de Cúria deve ser prestado com um olhar de fé, que não dispensa o preparo técnico e o profissionalismo. A Igreja servida pela Cúria é uma realidade humana, mas também divina. Nunca se pode esquecer essa dupla natureza da Igreja e, portanto, quem a serve não o pode fazer desprovido de motivação de fé, mística e espiritualidade. Tanto servem a Igreja o bispo diocesano, o coordenador de pastoral, o contador, o procurador da Mitra, o assistente jurídico, o chanceler e o arquivista, como quem acolhe as pessoas na portaria e quem lhes serve água e café. 

Cada um na sua função serve ao santo povo de Deus, mesmo nas tarefas que possam parecer apenas burocráticas, e os serviços devem ser valorizados nessa compreensão de fé e espiritualidade. E o Papa dispôs que esse mesmo espírito deve animar toda a Cúria da Santa Sé, a serviço da Igreja no mundo inteiro. 

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