O que aprendemos com a pandemia?

Dias atrás, em reunião com os bispos auxiliares e os padres coordenadores dos 56 setores pastorais da Arquidiocese, procuramos avaliar o impacto da pandemia de COVID-19, que já dura mais de quatro meses, das restrições e mudanças que ela impôs ao ritmo da vida cotidiana. As considerações foram interessantes.

É desnecessário dizer que as mudanças foram grandes. Em sua maioria, as igrejas ficaram fechadas à participação do povo. As celebrações, feitas com um mínimo de participantes presentes e transmitidas pelas mídias sociais, deixaram em muitos fiéis uma sensação de orfandade e um grande desejo de voltar a participar dos momentos de reunião e celebração. Sentiu-se, sobretudo, a falta da Sagrada Comunhão e do sacramento da Confissão. Percebeu-se, no entanto, que também há outras formas de cultivar a fé e a comunhão com Deus e com a comunidade eclesial.

A maioria das paróquias se esmerou para manter o contato com o povo e para lhe transmitir as celebrações por meio das mídias sociais. Isso constituiu um aprendizado, até mesmo para os sacerdotes não acostumados a lidar com essas tecnologias. Constatou-se, de uma forma geral, que o número de participantes foi sensivelmente superior ao daqueles que teriam, normalmente, participado das celebrações presenciais nas igrejas. É bem verdade que não se tem noção clara sobre a forma de participação mediante as mídias: se foi durante a celebração inteira ou apenas em algum momento; se houve real clima de celebração ou se se tratou apenas de um acesso fortuito e superficial.

Muitos padres também se referiram à organização e promoção de diversas iniciativas pastorais por meio das mídias, como Catequese, momentos de formação e reflexão bíblica, visitas virtuais às famílias, sobretudo onde havia enfermos ou situações de luto. Outros procuraram incentivar o dízimo e as doações para a manutenção das paróquias ou promoveram diversas iniciativas solidárias para socorrer os pobres e necessitados. Constatou-se que é possível e necessário fazer mais uso das mídias e da internet para dinamizar e agilizar a vida pastoral e a evangelização, não apenas em momentos emergenciais, mas na normalidade da vida pastoral da Igreja.

Observação geral foi que a caridade concreta cresceu nas paróquias e nas organizações pastorais da Igreja. Poucas são as paróquias e grupos pastorais, movimentos e comunidades religiosas que não promoveram iniciativas especiais de socorro aos necessitados. De fato, a pandemia fez aumentar o desemprego e a consequente carência de recursos para a alimentação, saúde e higiene, sobretudo nas áreas de maior pobreza da cidade. A recomendação para “não esquecer os pobres” teve respostas emergenciais muito generosas, mesmo sem resolver de maneira definitiva as situações de carência material.

Não se poderia deixar de mencionar as dificuldades financeiras enfrentadas pelas paróquias, comunidades e organizações eclesiais para a sua manutenção. Com a quarentena, as pessoas não tiveram acesso às igrejas para fazer suas doações ou ofertar seu dízimo; e as atividades comunitárias para arrecadar fundos necessários à manutenção das igrejas também não puderam ser realizadas. Como consequência, o provimento de recursos para enfrentar as despesas fixas e ordinárias se tornou difícil para muitas paróquias e para a própria Arquidiocese, que também depende das doações e ofertas dos fiéis. Com diversas iniciativas de solidariedade entre as paróquias mais bem providas para com aquelas mais pobres, foi possível enfrentar as situações muito críticas. Esse cenário, no entanto, levanta um questionamento sério sobre a forma ordinária de se obter os recursos necessários para a manutenção das igrejas e suas atividades pastorais, e isso deverá ser objeto de ulteriores reflexões e decisões.

O retorno gradual às celebrações com a participação dos fiéis e a reabertura dos serviços pastorais e de atendimento presencial a todos, desde o final de junho, mostrou que está sendo, geralmente, muito mais lento do que se podia esperar. Embora as igrejas estejam seguindo as recomendações sanitárias das autoridades públicas e da Arquidiocese de São Paulo, como o controle da temperatura no ingresso nas igrejas, o uso de máscaras e álcool em gel, e o distanciamento entre as pessoas no espaço interno dos templos, ainda há muito medo do contágio pela COVID-19. Se isso é bem compreensível, faz pensar, no entanto, que vai passar muito tempo até que se volte a uma certa normalização das celebrações e atividades pastorais da Igreja.

Não há dúvida de que a pandemia de COVID-19 nos obriga a analisar atentamente as suas consequências para o futuro da vida e da ação da Igreja. E isso deveria se tornar objeto de reflexão atenta da parte de todos os que têm responsabilidades na Igreja.

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