Por que esta semana é santa?

Com o rito da bênção e procissão dos ramos, no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja iniciou a celebração da Páscoa deste ano. De fato, no rito cristão essa celebração não se identifica apenas um dia, mas com o conjunto das celebrações, que se estendem do Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa da Ressurreição de Jesus. Toda a Semana Santa já é celebração da Páscoa cristã, na qual a Igreja celebra nos ritos os últimos dias da vida terrena de Jesus e se une misticamente a Ele, acolhendo novamente com fé suas palavras e o que Ele realizou em favor de toda a humanidade mediante sua Paixão, Morte e Ressurreição. Não se trata, pois, de mero rito ou encenação teatral, mas de celebração, feita com fé e união mística com Jesus Cristo e de acolhimento do seu significado e seu fruto.

A Semana Santa tem seu momento mais intenso no Tríduo Pascal, que se inicia no entardecer da Quinta-feira Santa e vai até o Domingo da Ressurreição de Jesus. No anoitecer da Quinta-feira Santa, lembrando a hora em que Jesus se reuniu com seus apóstolos para o rito da ceia pascal judaica, a Igreja recorda a última ceia de Jesus com seus apóstolos e a instituição da ceia pascal cristã, quando Jesus deu um sentido novo ao rito pascal conhecido, identificando-se, Ele mesmo, com o cordeiro pascal entregue e imolado pela salvação de toda a humanidade. No seu sangue derramado, Jesus anunciava o sinal da nova e eterna Aliança de Deus com a humanidade, aliança de amor, misericórdia e perdão. E mandou que, daí por diante, isso fosse feito sempre “em memória dele”, de tudo o que Ele fez e significou para a humanidade. É o que fazemos em cada celebração da Eucaristia.

Na Quinta-feira Santa, a Igreja também recorda a instituição do sacerdócio ministerial por Jesus, em sua Igreja. Ele quis que os apóstolos perpetuassem a sua presença e ação salvadora e que servissem, em nome dele, os dons que Ele trouxe e mereceu em favor de toda a humanidade. No mesmo dia da Semana Santa, a Igreja recorda o mandamento novo instituído por Jesus, ao recomendar: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 13,34; 15,17). Na cena do lava-pés, Ele deixou o exemplo de serviço humilde ao próximo, indicando que seus seguidores devem colocar-se a serviço uns dos outros, como ele mesmo fez, embora fosse o Mestre e Senhor deles: “Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15).

A Sexta-feira Santa é o centro do Tríduo Pascal, confrontando-nos com o drama da prisão de Jesus, seu julgamento iníquo, as torturas, humilhações, desprezo, condenação à morte, via dolorosa, crucificação e, finalmente, a morte humilhante na cruz e a sepultura. Embora já se tenham passado dois mil anos desde que tudo isso aconteceu, as celebrações da Sexta-feira Santa seguem mexendo com os sentimentos e nos questionam. Mesmo quem não frequenta a Igreja ao longo do ano, não deixa de participar nesse dia, de alguma maneira.

Não é dia para sentimentalismos nem de ódio ou revanche contra os figurantes daquele drama ocorrido há tanto tempo. A Paixão de Cristo chama em causa a cada um de nós ainda hoje e nos questiona sobre qual seria o nosso papel nesse drama? Como nos envolvemos com aquele Justo que foi acusado de maneira mentirosa, caluniado, condenado, torturado, humilhado, insultado, massacrado e pendurado numa cruz, até morrer? E isso não continuam acontecendo ao nosso redor todos os dias, de alguma maneira? Como nos envolvemos? É dia de cair na conta que a Paixão de Cristo continua a acontecer nas dores da humanidade, pois Ele mesmo disse: “O que fazeis ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis” (cf Mt 25,40,45). É dia de bater no peito, arrependidos; de pedir perdão e de agradecer a Jesus Cristo, dizendo com São Paulo: “Ele me amou e por mim se entregou na cruz” (cf Gl 2,20).

O Sábado Santo nos confronta com a sepultura, a morte, as promessas de Deus, a espera do triunfo da vida. O Filho de Deus assumiu nossa humanidade e nos acompanhou até o extremo de nossa fragilidade, até a sepultura, quando todos os projetos parecem ter perdido seu sentido. Mas, pelo poder de Deus, nossa morte foi resgatada pela sua e na sua Ressurreição, brilhou a vida para todos (cf 2Cor 4,10-11). O Sábado Santo é dia de vigília; a vida inteira também é tempo de vigília, à espera que o fruto amadureça e se manifeste plenamente a vida que ele contém. Sim, pois sabemos que a vida venceu a morte e nos preparamos para celebrar a solene Vigília Pascal da Ressurreição, cheios de fé e de confiança no Senhor da vida.

A Semana Santa só se completa com o Domingo da Ressurreição de Jesus, quando a Igreja canta: “Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos!” A vida venceu a morte, a maldade e todo projeto de ódio e perversidade. O Rei da vida estava morto, mas reina vivo e se mostra aos seus, que ficam alegres e cheios de surpresa ao encontrá-lo. Ele se levantou sobre o pó da morte, não para cobrar vingança de quem o rejeitou e matou, mas para distribuir perdão e paz a todos. É o dia da nova criação, que confere sentido novo e eterno à primeira criação e à realidade presente que vivemos. Para qual finalidade Deus criou o homem e o mundo? Para fazê-los participarem de sua vida sobrenatural. Jesus ressuscitado é, no dizer de São Paulo, “o primogênito dentre os mortos” (cf Cl 1,15), cuja humanidade já participa da glória da divindade. Com a Ressurreição de Jesus, começa um novo capítulo para a humanidade, que ainda segue marcada pela morte mas, agora, está cheia de esperança na vida plena, que vai além da morte.

Desejo a todos os leitores do nosso jornal O SÃO PAULO uma boa Semana Santa e feliz e santa Páscoa! Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!

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