A ideia da participação está em evidência nestes últimos tempos na Igreja. Mediante o sínodo em curso, o Papa Francisco convoca todos os membros da Igreja a participarem da vida e da missão da mesma Igreja. Esta é uma realidade de “comunhão, participação e missão”, como diz o tema do sínodo, que terá a primeira parte de sua assembleia em outubro deste ano no Vaticano.
Não é um tema novo. Muito pelo contrário: desde as origens, os membros da Igreja são chamados a se sentirem parte dela, a terem parte na sua fé e na sua esperança. Já na comunidade primitiva de Jerusalém, os cristãos alegravam-se por participarem da vida nova que o Evangelho lhes proporcionava e participavam do cuidado de uns pelos outros, das orações em comum e, também, dos sofrimentos recíprocos que lhes eram infligidos pelas perseguições (cf. At 2,46-47). Eles tinham a consciência de que formavam uma comunidade de vida em Cristo. São Paulo destaca de diversas maneiras a participação de todos os batizados no bem da vida nova recebida no Batismo, nos bens da fé, esperança e caridade: “há um só corpo e um só Espírito, como há também uma só esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef 4,4- 5). Os dons da fé e da vida cristã não são bens que se possam ter de maneira autônoma e destacada de Cristo e da comunidade de fé, mas na comunhão com Cristo e a Igreja e participando dela. O mesmo São Paulo vai destacar que a Igreja é como um corpo, do qual Cristo é a cabeça e todos são membros desse corpo, com funções diversas; mas, coordenados pela única cabeça, exercem a sua função em benefício do corpo inteiro (cf. Rm 12,3-5).
Outra imagem bonita usada por São Paulo para expressar a participação de todos na Igreja é a da família: “Já não sois mais estrangeiros nem migrantes; sois da família de Deus…. (cf. Ef 2,19). Na Igreja, todos têm parte, como os filhos têm parte na família. Na Carta de Pedro aparece a comparação com a construção: “Vós sois pedras vivas na edificação do templo espiritual, que é a Igreja do Deus vivo” (cf. 1Pd 2,5). Cada pedra, cada elemento da construção tem sua importância e participa da edificação da casa inteira. Participar é importante e contribui para a obra comum, que ficaria defeituosa sem a contribuição de cada um.
Não somos cristãos de maneira autônoma e isolada, mas participativa e em comunhão com Cristo e com os demais cristãos. Participar da Igreja é, antes de tudo, uma graça. Antes de se expressar em ações, a participação é a nossa condição originária: somos participantes do corpo de Cristo, que é a Igreja; temos parte nos bens da salvação, do Evangelho, das promessas de Deus e do patrimônio espiritual da Igreja, da “herança apostólica”, do tesouro do testemunho dos santos ao longo dos séculos. Quando fomos batizados, tudo isso já existia e nos precedeu; nós entramos e fomos acolhidos “de graça” e “por graça”, para termos parte na Igreja.
Por ser assim, a nossa participação na Igreja também deve ser traduzida de maneira ativa. Na Igreja, os dons são muitos e cada um recebeu o seu. Cada um, a partir do próprio dom, é chamado a participar da obra comum da Igreja, que é a evangelização e o testemunho da fé e da caridade. A participação pode ser ministerial, quando está voltada para os serviços internos da Igreja, como no caso do sacerdócio, do diaconato e dos muitos ministérios não ordenados, que são necessários para o dinamismo da vida comunitária. Se nem todos podem exercer algum ministério ordenado ou não ordenado, mesmo assim todos são chamados a participar da vida e da missão da Igreja a partir da sua condição na Igreja. Os cristãos leigos são testemunhas do Evangelho do Reino de Deus no mundo, onde vivem e exercem as suas aptidões e competências profissionais. Nesses espaços da convivência e da ação humana, onde a Igreja não está representada como instituição, os cristãos leigos desempenham sua missão de ser testemunhas de Cristo e da Boa-Nova do Reino de Deus.
Em nossa Igreja, precisamos redescobrir o significado rico da participação, que ficou por demais reduzido a um “fazer coisas” na Igreja. Quando vamos à Missa, mostramos nossa consciência de participação no bem da Igreja e na sua missão. Quando ficamos distantes e não nos envolvemos com nossa comunidade de fé, mostramos que nos falta a consciência do pertencimento e da participação no bem da Igreja em na sua missão.