Ensinar a verdadeira liberdade

Assunto importante e que está causando muitos transtornos no que diz respeito à educação dos filhos: a liberdade.

Cada um de nós tem sede de liberdade, é próprio do ser humano essa busca. Estamos vivendo, porém, uma crise de conceitos e acabamos não compreendendo bem o que é a liberdade e como ensiná-la aos filhos. 

Há uma confusão iminente entre liberdade e a possibilidade de escolher. De fato, uma das manifestações da liberdade é a de escolha, porém, não qualquer escolha. Hoje em dia, é comum uma pessoa se sentir livre ao ter a possibilidade de escolher algo movida pelo prazer que isso lhe traz – nesse caso, não se trata de liberdade, mas, sim, de escravidão, uma vez que a pessoa escolhe pelo prazer, mesmo que o resultado seja nocivo. Exemplo: escolhe-se comer uma caixa de chocolate inteira, mesmo sabendo que faz mal à sua saúde. Ou seja, a possibilidade de escolha somente será verdadeiramente um ato de liberdade se a pessoa estiver formada com critérios claros, bons e que tenha a capacidade de dizer não ao impulso, se isso for o melhor.

Outra confusão comum está relacionada à felicidade. Há a ilusão de que, exercendo a liberdade de escolha, automaticamente se estará feliz. Existe um tipo de felicidade muito fugaz, superficial, fruto de um prazer instantâneo. Essa pode acontecer quando se escolhe movido pelo prazer. Existe a felicidade propriamente dita, fruto de conquistas, entregas e objetivos árduos alcançados com empenho. Nem todas as escolhas que levam a essas conquistas mais árduas serão fáceis e trarão felicidade imediata. É preciso ter muita convicção dos objetivos, dos fins a serem alcançados, para se fazer escolhas nem sempre fáceis e prazerosas que levem a essa felicidade mais profunda. 

Embora a liberdade não se restrinja à possibilidade de escolha, vamos tratar desse aspecto que toca intensamente o cotidiano familiar.

Em primeiro lugar, é necessário identificar o que é verdadeiramente a liberdade. Vamos a algumas definições: segundo Santo Tomás de Aquino, a liberdade é a abertura transcendental da inteligência humana à verdade e ao bem. Cormak Burke a define como “a capacidade de escolher os meios mais adequados para realizar-me como ser humano”. Em ambas as definições, podemos observar que a liberdade pressupõe uma capacidade de determinação a um bem.

Partindo desse princípio, para prepararmos os filhos para o exercício da liberdade, é preciso:

– Iluminar a inteligência deles desde a infância, ensinando o bem e a verdade (com exemplos, ações e conversas, mostrar a importância da busca do bem e da verdade a cada momento).

– Ensinar, na prática cotidiana, que atos promovem consequências (quando pequenos, protegê-los de atos que podem trazer consequências nocivas e, aos poucos, conforme crescem em capacidade de raciocínio, conversar sobre elas e, especialmente, permitir que sofram as consequências de seus atos. Atenção!: nunca os “salvem” das consequências de seus atos).

– Treinar a vontade dos filhos por meio da conquista das virtudes. De nada adianta identificar intelectualmente o bem, se não há força de vontade para renunciar ao que é preciso e se determinar a alcançar tal bem. Esse treino da vontade começa com a implementação de rotinas quando são bem pequenos, com a determinação de cardápios saudáveis etc.).

– Ajudar a se moverem pela vontade e não pelos impulsos, emoções e sentimentos. Na primeira infância, isso supõe assumir o papel de vontade auxiliar ou externa – escolhendo por eles aquilo que é bom, independentemente de seus desejos infantis.

– Traçar um caminho progressivo de possibilidades de decidir (a partir de aproximadamente 5 anos).

Lembrem-se, pais: não podem ser livres aqueles que não têm critérios claros e bem formados. Portanto, não permitam que seus filhos pequenos escolham, pois não estão preparados. Protejam-nos de escolhas ruins e do estresse e insegurança que causam. Ao contrário do que pensam, crianças expostas a essas situações, antes de devidamente maduras e preparadas, sentem-se extremamente inseguras; afinal, estão abandonadas nos braços de seus impulsos infantis. Pensem nisso!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram @sifuzaro.

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