Como educadora experiente, fonoaudióloga clínica e escolar, acompanho, ao longo de toda a minha vida profissional, crianças com algumas dificuldades específicas de aprendizagem – na área da linguagem, da matemática ou mesmo em disciplinas que exijam mais concentração e foco. Isso é absolutamente esperado, tendo em conta a diversidade de habilidades naturais, de ambientes estimuladores, de vivências pessoais, enfim: para isso existe a escola e os professores. São eles que identificam no cotidiano escolar as pequenas ou não tão pequenas dificuldades e organizam o processo de aprendizagem das crianças, adaptando as atividades, dando maior atenção aos que mais necessitam, orientando a estimulação familiar para que seja mais eficiente etc.
Muitas crianças, após uma atuação mais assertiva e estruturada por parte do educador e da família (quando bem orientada), desenvolvem-se bem e caminham adequadamente no processo de ensino/aprendizagem. No entanto, o que mais tenho observado hoje são crianças se transformando em verdadeiras “batatas quentes”: diante da menor dificuldade de aprendizagem apresentada, mesmo em tenra idade, inicia-se uma corrida em busca de diagnósticos e especialistas. Vão ao psicopedagogo, neuropsicólogo, neurologista infantil, psicólogo comportamental até receberem um diagnóstico que justifique a dificuldade em algum aspecto de aprendizagem ou de comportamento. Muitos são laudados, medicados e libertam a escola, os educadores e, por vezes, os pais, de qualquer responsabilidade sobre a dificuldade apresentada.
Ouso dizer, sem medo de errar, que existem muito mais problemas de ensinagem do que de aprendizagem. No entanto, é mais conveniente diagnosticarmos as crianças do que revermos os métodos e estratégias de ensino, não é mesmo? Mais fácil medicar do que adequar condutas, manejos e hábitos ambientais que promovam melhores condições de aprendizagem.
E isso vem me preocupando há algum tempo. Agora, porém, tornou-se emergência: crianças sendo hiperdiagnosticadas e medicadas de modo imprudente e excessivo, escolas rejeitando crianças porque ainda não alcançaram o nível da maioria de seus alunos naquela turma ou porque não têm um comportamento tão adequado – e aqui não estou falando de alunos vândalos ou absolutamente despreparados para o convívio social. Que absurdo! Aonde vamos parar?
Fazer o fácil qualquer um faz. Ensinar os que praticamente aprendem sozinhos, não é mérito de ninguém. No entanto, enfrentar com coragem e amor pela missão as situações mais difíceis, pegando essas crianças com as mãos e as conduzindo, é para poucos – para profissionais com letra maiúscula e, infelizmente, estão em falta no mercado.
Crianças mais difíceis (seja no campo da aprendizagem, seja no do comportamento), precisam de adultos mais firmes e comprometidos, que as conduzam com inteligência e determinação e, isso sim, está em falta no mercado.
Saudades das ESCOLAS que transformavam os alunos em estudantes. Saudades de mães como a de Thomas Edison, que salvou seu filho de um professor que diagnosticara: “O seu filho é confuso e tem problemas mentais. Não vamos deixá-lo vir mais à escola”. Que erro retumbante cometeu esse professor e que graça para esse menino (e para toda a humanidade) a presença de uma mãe que confiou e investiu nele corajosamente.