Família como núcleo intergeracional para a promoção de direitos

Nas últimas décadas, o envelhecimento da população brasileira deu um grande salto e tende a aumentar muito até 2040. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que o País será o sexto em número de idosos em 2025, quando provavelmente chegará ao patamar de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Com pessoas vivendo mais, há o grande desafio na garantia do bem-estar dos que envelhecem. 

Com o aumento da longevidade, as famílias têm a oportunidade do encontro entre diversas gerações. É cada vez mais comum que dividam o mesmo teto ou as festas de família, os bisavós, avós, pais, filhos, netos e bisnetos. Uma pesquisa realizada na cidade com o maior número de longevos do Brasil, Veranópolis (RS), apontou que o encurtamento dos telômeros (extremidade dos cromossomos) de idosos que têm maior convivência com as diversas gerações familiares é mais lento – ou seja, eles envelhecem em menor velocidade. 

Ao compartilharem experiências com os mais jovens, os idosos se enriquecem e fazem enriquecer, reavaliando conceitos, facilitando a socialização. A solidariedade intergeracional pode ser um fio condutor para a reversão de determinados valores, contribuindo para a ruptura de preconceitos e promovendo um efeito positivo para a saúde e o bem-estar dos mais velhos. 

Superar a lógica do individualismo, promover e valorizar as experiências de partilha e de solidariedade, é um desafio para toda a sociedade contemporânea. Nesse sentido, a política deve fornecer instrumentos das experiências das famílias, num espírito de subsidiariedade. 

Por outro lado, as famílias têm a responsabilidade de ser um concreto “mediador de solidariedade”, capaz de desenvolver funções de cuidado entre as gerações, solidariedade econômica e sustento até para condições de grave fragilidade dos próprios membros. As pessoas idosas têm o direito de encontrar no seio de sua própria família ou, se isso não for possível, nas instituições, condições para viver sua velhice na serenidade, exercendo atividades compatíveis com sua idade e que lhes permitam participar na vida social.

Os idosos “não só podem dar testemunho de que existem aspectos da vida, como os valores humanos e culturais, morais e sociais, que não se medem em termos econômicos e funcionais, mas oferecer também o seu contributo eficaz no âmbito do trabalho e no da responsabilidade. 

Trata-se, por fim, não só de fazer algo pelos idosos, mas de aceitar também estas pessoas como colaboradores responsáveis” (Papa João Paulo II, Familiaris consortio, FC 45). 

Uma sociedade em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados se separa das próprias raízes. O fenômeno contemporâneo de se sentir órfão nos desafia a fazer das nossas famílias um lugar em que os jovens possam lançar raízes no terreno de uma história coletiva. 

A atenção aos idosos distingue uma civilização. Ela irá em frente se souber respeitar a sabedoria dos idosos. A falta de memória histórica é um defeito grave do nosso tempo. É a mentalidade imatura do “já está ultrapassado”. 

Não se pode educar sem memória. As histórias dos idosos fazem muito bem aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família quanto pela vizinhança e o País. 

Uma juventude que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma juventude desintegrada; mas uma família que recorda é uma família e uma sociedade com futuro. 

Rodrigo Gastalho Moreira, formado em Direito pela UFRJ, com pós-graduação em Gestão Empresarial pela Universidade Candido Mendes, tem formação em Ciências Religiosas pelo Instituto Superior de Ciências Religiosas do Rio de Janeiro e pós-graduação em Teologia Aplicada pela Universidade de Oxford, Reino Unido.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO

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Lauro Cezar Peixoto de Mesquita
Lauro Cezar Peixoto de Mesquita
1 ano atrás

Excelente artigo, Dr. Rodrigo.
Ele realça, com toda sabedoria, a família e em especial os patriarcas que devem sempre ser respeitados e admirados pois, somente eles, são capazes de educar e nortear seus descendentes, a uma vida de virtudes e desempenho, por suas longas vidas vividas. Somente eles são capazes, principalmente, guando seguidos e alinhados com as palavras e os ensinamentos do Senhor.
Parabéns. Desejo ao Sr. muito sucesso e muita luz em sua caminhada terrena.