Idosos e jovens

A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Avós e Idosos, celebrado no 4º domingo de julho, é dirigida ao coração dos idosos e também dos jovens. A comemoração, instituída por Francisco em 2021 para valorizar os avós e as pessoas idosas, acontece todos os anos na proximidade da festa de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Maria Santíssima e avós de Jesus.

O tema escolhido pelo Papa para este ano é tomado do Cântico de Maria (Magnificat): “De geração em geração, a sua misericórdia se estende sobre aqueles que o temem” (Lc 1,50). Maria exulta de alegria porque Deus manifestou a sua misericórdia às gerações passadas, por meio da Aliança com seu povo eleito e das promessas de salvação, renovadas muitas vezes pela boca dos profetas. Maria reconhece que as misericórdias de Deus se renovam de geração em geração. Ela mesma, agraciada pela escolha divina para ser a mãe do Salvador, proclama: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada”. Era uma jovem mulher que o dizia diante de um casal nem tão jovem, Isabel e Zacarias, representando a geração dos idosos.

Maria vai às pressas ao encontro de Isabel para lhe compartilhar sua alegria pelas maravilhas que Deus fazia por meio dela em favor de toda a humanidade. O Espírito de Deus realizava suas obras nas novas gerações e Isabel se alegrou muito ao ouvir isso. Os jovens alegram os idosos e lhes dão esperança. A jovem Maria também foi assistir Isabel durante a gravidez da prima e o nascimento de João Batista. E o Papa lembrou: “Deus quer que os jovens, como fez Maria com Isabel, alegrem o coração dos anciãos e, a partir da sabedoria e das experiências deles, aprendam a ser sábios também”. E recomendou aos jovens: não abandonem os idosos à margem da vida, como hoje, infelizmente, acontece com demasiada frequência.

Desta vez, a comemoração do Dia dos Avós e Idosos acontece nas proximidades da Jornada Mundial da Juventude, a ser realizada em Lisboa, de 1º a 6 de agosto, e a mensagem do Papa para o Dia dos Idosos é dirigida, sobretudo, aos jovens, estabelecendo a ligação entre ambas as gerações.

Os jovens são convocados a olharem para os idosos, reconhecendo neles, e graças a eles, a história de amor, da qual fazem parte. E os idosos, olhando para os jovens, reconheçam neles a esperança e a promessa que realiza os seus sonhos. Nos jovens, as pessoas idosas podem ter a certeza de que a vida segue adiante e haverá quem ainda vai edificar este mundo no amor e na esperança. As gerações se entrelaçam e uma depende da outra. Ninguém se salva sozinho nem consegue levar adiante a sua missão sem os outros. A própria experiência de Deus não pertence a nós, individual e isoladamente: ela vai sendo percebida, conhecida e acolhida “de geração em geração” e o projeto de Deus vai se realizando no passado, no presente e no futuro.

Os idosos aprendam dos jovens a manter firme a esperança e a alegria. Os jovens aprendam dos idosos a serenidade, a paciência e a perseverança, pois não se consegue tudo de uma vez e de imediato. O projeto de Deus a nosso respeito ultrapassa a nós mesmos e, por isso, é necessário aprender a caminhar na esperança. Diz o Papa: “Olhemos para a frente! Deixemo-nos plasmar pela graça de Deus que, de geração em geração, nos liberta do medo de agir e das lamúrias sobre o passado!” Francisco convida os jovens a irem ao encontro dos idosos, a visitar, ouvir, desfrutar da companhia dos idosos, ouvir suas histórias com paciência e alegrar-se com eles: “Não os deixemos sozinhos; a sua presença nas famílias e nas comunidades é preciosa”. E pede aos jovens que se preparam para ir à Jornada da Juventude: “Antes de sair para a viagem, ide visitar vossos avós ou a um idoso que vive sozinho. A sua oração proteger-vos-á e levareis no coração a bênção daquele encontro”. Por sua vez, o Papa também convida os idosos a acompanharem os jovens com a oração na Jornada da Juventude.

“Homem algum é uma ilha”, disse um pensador do século XX (Aléxis Carrel). Num tempo como o nosso, em que, infelizmente, aumentam os estímulos ao isolamento e ao individualismo, a mensagem do Papa é como um bálsamo para as relações humanas, muitas vezes tornadas áridas e desinteressantes por causa da desatenção às pessoas e da busca desenfreada dos próprios interesses e vantagens. O incentivo à reconstrução das relações entre as gerações, entre idosos e jovens, jovens e idosos, seja um sinal de esperança para um futuro melhor.

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