Lançai as redes

Ingressamos na reta final da assembleia do sínodo arquidiocesano, com a realização da 6a sessão, no sábado, 5, na qual houve a primeira votação das propostas elaboradas nas sessões anteriores. Em todas as etapas desta caminhada, sentiu-se a necessidade de se comprometer, cada vez mais, com o chamado ao discipulado-missionário de Jesus Cristo nesta imensa cidade. 

Iluminados pelo trecho do Evangelho que narra a pesca milagrosa no lago de Genesaré e o chamado dos apóstolos Pedro, Tiago e João (cf. Lc 5,1-11), é possível perceber a necessidade de redescobrirmos nosso modo de pescar. Não devemos ficar apenas em nossa bolha, nos acomodar ao que temos e somos. Nosso Mestre nos pede para avançarmos a águas mais profundas. E, para isso, podemos observar alguns pontos que o evangelista Lucas apresenta. 

O primeiro aspecto é o barco, isto é, a comunidade cristã, a Igreja, o espaço a partir do qual a Palavra de Jesus se dirige à imensidão das grandes águas, ao mundo, em uma proposta de vida e salvação. É no barco, a Igreja, que Jesus ensina as multidões. 

Outro aspecto é a confiança. No processo de aprendizado do Mestre, é fundamental escutarmos suas indicações e confiar Nele com humildade diante dos fracassos, dando atenção às suas indicações. 

O texto também indica o exemplo de Pedro. Como ele, é necessário reconhecermos Jesus como Nosso Senhor e aderirmos, livremente, à sua proposta de vida em plenitude para todos. Pedro sabe da força e do efeito da Palavra de Jesus!

Cristo chama a cada um de nós a sermos “pescadores de homens”, isto é, a continuarmos sua obra de salvação, ou seja, de tudo o que impede a vida e a felicidade verdadeiras, do “leviatã” (o monstro marinho) da opressão, do egoísmo, do sofrimento, do medo, da discriminação e da exclusão. 

Esse trecho bíblico também nos chama ao desprendimento, pois não é possível seguir a Jesus com uma bolsa transbordante de elementos que não nos permitem viver com generosidade nossa vocação cristã. 

Por fim, vemos o animador do barco. Devemos reconhecer na pessoa de Pedro e, hoje, em seu sucessor, o Papa Francisco, o porta-voz, o animador do barco que navega nos mares da história. É apenas com este reconhecimento que é possível o caminho de conversão pastoral, de sinodalidade. 

Há cinco anos, nossa Igreja em São Paulo vive esse jeito sinodal de ser, de caminhar juntos, de refletir e perceber a riqueza do que somos e do que urge mudarmos. E, por isso, inferimos a necessidade de pescarmos diferente, de confiarmos que não estamos só, mas que o próprio Cristo está conosco; de enfrentarmos as inúmeras situações adversas de nosso tempo presente para que, humildemente, alcancemos a plenitude. 

O sínodo não é técnica, mas, sim, a contemplação desse aroma renovador de ser Igreja, é estar atento ao que acontece, é ouvir o grito que vem das periferias geográficas e existenciais, é ver as necessidades do nosso hoje, para, assim, em comunidade e à luz do Espírito Santo, buscar, com coragem, valentia e ousadia, evangelizar nesta época de mudanças. 

Por isso, diante da cena da pesca milagrosa, podemos nos perguntar: Como acolher o pedido daquele que na praia nos sugere irmos ao mais profundo e lançarmos novamente as redes? Como podemos ir à região mais escura do mar na qual as águas causam mais temor? Como sair da zona de conforto? Como superar nossas resistências e o apego às nossas próprias ideias? Em outras palavras, como viver a conversão pastoral? 

São Francisco de Assis disse certa vez: “Irmãos, comecemos, pois até agora pouco ou nada fizemos”. Eis o tempo sinodal, o tempo de saída da superficialidade costeira e do avanço a águas cada vez mais profundas, eis o tempo de comunhão, conversão e renovação missionária. 

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