Na ‘Casa da Mãe’, peregrinos da Arquidiocese reanimam a esperança e rezam pelo Conclave

‘Não estamos sozinhos. Cristo está à margem e Maria caminha conosco’, destacou Dom Carlos Silva na missa da 124ª Romaria Arquidiocesana a Aparecida

DANIEL GOMES E KAREN EUFROSINO

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO 

Com bandeirinhas coloridas nas mãos e cantando, animados, o hino do Jubileu 2025, os peregrinos da Arquidiocese de São Paulo lotaram a basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida para a missa das 10h do 3º Domingo da Páscoa, dia 4. 

Pela 124ª vez, a Arquidiocese de São Paulo foi em romaria à “Casa da Mãe Aparecida”, como sempre acontece no primeiro domingo de maio. Este ano, lá estiveram ao menos 232 ônibus com romeiros provenientes de paróquias das seis regiões episcopais, conforme dados do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, os quais somados aos que peregrinaram em seus carros ou em caravanas formadas nos últimos dias fizeram com que cerca de 15 mil pessoas participassem da romaria, este ano com o tema “Com Maria, Peregrinos de Esperança”. 

“Que alegria nos encontrarmos na Casa da Mãe neste Ano Jubilar. Somos todos peregrinos de esperança”, afirmou, no começo da missa, Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese, que presidiu a Eucaristia no altar central da basílica, tendo como concelebrantes os também bispos auxiliares de São Paulo Dom Cícero Alves de França, Dom Rogério Augusto das Neves e Dom Carlos Lema Garcia, além de sacerdotes do clero arquidiocesano. 

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, não participou, pois está no Vaticano para o Conclave que elegerá o futuro Papa a partir da quarta-feira, 7. 

ACOLHIDOS POR MARIA COM TERNURA 

“Nós somos o povo de Deus em marcha, peregrinos de fé. Chegamos à Casa da Mãe com os pés cansados, mas com o coração cheio de esperança”, disse Dom Carlos Silva ao iniciar a homilia. “É bom estarmos sob o olhar materno enquanto ainda ressoa em nós o canto do Aleluia Pascal. A pedra foi removida, a morte vencida, e, com Cristo ressuscitado, renasce em nós a esperança que não decepciona”, complementou. 

NO MAR DA GALILEIA, NO RIO PARAÍBA DO SUL E NAS GRANDES CIDADES 

Ao refletir sobre o Evangelho do 3º Domingo da Páscoa (cf. Jo 21,1-19), em que Jesus aparece aos apóstolos às margens do Mar da Galileia quando estes, desanimados, já haviam voltado às suas rotinas, Dom Carlos lembrou que o Senhor ressurge-lhes e os orienta a lançar as redes, e o milagre da pesca abundante acontece. 

“E como não recordar há mais de 300 anos, aqui em Aparecida, da outra pesca, aquela ocorrida no Rio Paraíba do Sul: três homens humildes, redes vazias, água turva, e a imagem de Nossa Senhora emerge da profundeza, como quem sussurra ‘Eu estou com vocês, não tenham medo’. Primeiro o corpo, depois a cabeça. A mãe veio inteira, para cuidar do povo inteiro. Nós somos o povo cuidado pela mãe”, afirmou o Bispo. 

“Também hoje, nós lançamos nossas redes nas águas turvas das grandes cidades, nas periferias geográficas e existenciais, nos corações machucados pelo abandono, pela violência, pela desesperança. Não estamos sozinhos. Cristo está à margem. Maria caminha conosco”, ressaltou. 

COM MARIA E NA FIDELIDADE AO FUTURO PAPA 

Ainda aludindo ao Evangelho no qual Pedro confirma sua adesão a Cristo e o Senhor manda que o apóstolo apascente suas ovelhas, Dom Carlos destacou que a lógica do Reino de Deus não é a da autoridade pela via do poder, mas pelo amor. 

“Com a morte do querido Papa Francisco, o coração da Igreja se volta em oração, em silêncio, em esperança para o Conclave. Para nós que cremos, não será apenas um evento. É um novo Pentecostes. É o Espírito Santo conduzindo a barca de Pedro”, afirmou Dom Carlos, recordando que Francisco foi “o Papa da misericórdia, do cuidado com os pobres, da ternura, e nos ensinou o caminho do Evangelho vivo com radicalidade e humildade”. 

O Bispo Auxiliar de São Paulo convidou a assembleia de fiéis e os concelebrantes a repetir “Nós também vamos contigo, Senhor”, para destacar o carinho e a obediência que todos na Igreja deverão ter àquele que for eleito Papa no Conclave, “o escolhido pelo Espírito, aquele a quem Cristo confiará mais uma vez as chaves do Reino”. 

‘A BARCA DA IGREJA NÃO ESTÁ À DERIVA’ 

Ao término da homilia, Dom Carlos ressaltou que, no caminho da fé, os católicos seguirão com Maria – “modelo de uma esperança perseverante” – e sempre confiantes em Cristo, que nunca decepciona. 

“A esperança cristã é certeza. Certeza de que a barca da Igreja não está à deriva. Certeza de que o novo Papa será escolhido não para reinar, mas para servir e para amar. Certeza de que cada um de nós, por mais simples que seja, tem uma missão no Reino de Deus. Irmãos e irmãs, nesta manhã pascal, diante da Mãe Aparecida, façamos nossa profissão de fé viva. Lancemos novamente as redes. Sigamos Pedro com Maria e descubramos, de novo, que Cristo nos espera sempre na margem da vida, no partir do pão e no coração do povo”, concluiu, desejando que os devotos retornassem às suas casas renovados. 

Entre as preces na oração dos fiéis, os peregrinos rezaram pelo repouso eterno do Papa Francisco e para que o Espírito Santo conceda à Igreja um pastor que conduza o povo com os mesmos sentimentos de Cristo. 

Após a Comunhão, Dom Cícero Alves de França rezou a consagração a Nossa Senhora Aparecida. 

OS LAÇOS DE APARECIDA COM A ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO 

  • Em 1717, quando foi encontrada a imagem da Padroeira do Brasil, todo o estado de São Paulo pertencia à então Diocese do Rio de Janeiro. Com a criação da Diocese de São Paulo em 1745 (que se tornaria Arquidiocese em 1908), Aparecida passou a fazer parte de seu território. 
  • Até a chegada dos primeiros missionários Redentoristas a Aparecida, em 1894, o atendimento pastoral e espiritual da Basílica ficou aos cuidados do clero da Diocese de São Paulo. 
  • Em 1958, o Papa Pio XII criou a Arquidiocese de Aparecida. Seu primeiro Arcebispo foi o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, até então Arcebispo de São Paulo. 

‘COM MARIA, PEREGRINOS DE ESPERANÇA’

“É sempre uma alegria estar na ‘Casa da Mãe’, e toda a Arquidiocese mostrou esta alegria participando de forma bem ativa e frutuosa desta celebração. Como é bom estarmos aqui neste tempo tão oportuno em que rezamos pelo Conclave e para que o Espírito Santo, iluminando a nossa Igreja, possa continuar conduzindo-nos pelos caminhos do Ressuscitado”. 

Padre Roberto Carlos Queiroz Moura, Coordenador Arquidiocesano de Pastoral 

“Este é o Ano Jubilar da Esperança e todos nós viemos a Aparecida rezar com esperança, não só para as nossas vidas, mas também pelo Conclave, para que, pelo Espírito Santo, se escolha o próximo Papa e que possa continuar o legado do Papa Francisco, que fez a Igreja resplandecer em todo o mundo”

Fernanda Passos, leiga da Paróquia São Bernardo de Claraval (Região Ipiranga) 

Paróquia São Pedro Apóstolo

“Esta peregrinação feita neste Ano Jubilar foi muito importante porque traz a esperança de dias melhores, esperança de que temos de confiar em Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos peregrinos da esperança. E, no Santuário, sempre nos sentimos acolhidos por Nossa Senhora Aparecida”. 

Cleoni Cândido, leigo da Paróquia Espírito Santo (Região Brasilândia) 

“Sou devoto de Nossa Senhora e é uma alegria imensa estar aqui peregrinando como padre pela primeira vez. Aqui, nós nos sentimos acolhidos pela Mãe. Viemos como Igreja em São Paulo e, por isso, rezamos pela comunhão da nossa igreja particular”. 

Padre Douglas Gonzaga, neossacerdote do clero arquidiocesano

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