O rei Davi desejava construir um templo – uma “casa” – para Deus, onde pudesse colocar a Arca da Aliança. Esta empreitada viria a ser concretizada por seu filho Salomão. O Senhor disse a Davi: “‘Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar?’ (…) O Senhor é que te fará uma casa” (2Sm 7,5.11). Com um jogo de palavras, Deus prometeu-lhe aquilo que o rei queria dar: uma “casa”. Entretanto, não primariamente no sentido de “habitação”, mas de uma “descendência”. Um descendente de Davi que reinaria para sempre (cf. 2Sm 7,16).
Embora fosse destinado a ser o construtor do Templo, Salomão não era ainda a “descendência” prometida. Após a morte de Davi, ele empregaria toda a riqueza, arte e esplendor ao seu alcance para fazer uma “casa do Senhor” majestosa em Jerusalém. Ali colocou a Arca da Aliança contendo as tábuas da Lei. Todo o engenho humano então existente foi empregado para a edificação de um lugar sublime. Entretanto, tampouco seria esta a habitação definitiva do Senhor entre os homens.
Quando o arcanjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento de Cristo, disse que “Ele será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32s). Nosso Senhor é o cumprimento da promessa; o Filho de Deus “nascido da estirpe de Davi segundo a carne” (Rm 1,3). A Ele nos dirigimos com as palavras confiantes do cego Bartimeu: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Mc 10,47). Ele é a Descendência esperada. “Nascido de mulher” (Gl 4,4), é Deus com o Pai desde o princípio (cf. Jo 1,1) e maior que as tábuas da Lei de Moisés abrigadas no antigo Templo.
Deus também fez, contudo, uma “Casa” para si. Afinal, Cristo não veio ao mundo num templo feito por mãos humanas (cf. Hb 9,24). Entrou na história por meio da Virgem Maria. Ela é o Santuário projetado por Deus para este fim. Como a Nuvem que “enchia o templo do Senhor” na trasladação da Arca (cf. 1Rs 8,10), o Espírito Santo habita a Santíssima Virgem em profusão. Por isso, o anjo lhe disse: “Cheia de graça, o Senhor está contigo!”. (Lc 1,28). Livre do pecado original, Ela é como um paraíso ordenado e puro, idealizado por Deus em meio a um mundo decaído. Habitação mais digna para o Senhor, Ela é o Tabernáculo em que se deu um fato único e assombroso: a Encarnação do Filho de Deus.
Se queremos celebrar o Natal com sinceridade e devoção, Maria Santíssima pode nos ajudar! Que Ela nos ensine a esperar, acolher e amar seu Filho Jesus. À sua semelhança, sejamos como sacrários vivos, adornados pela graça e prontos para receber o Senhor dignamente na Comunhão. Com a sua atitude de silêncio, contemplação e obediência, nossa alma seja vigilante à espera do Menino. Purificados por uma boa Confissão, sejamos uma Belém acolhedora e limpa para Ele. Que Jesus se alegre em vir até nós na Noite Santa! Que lhe mostremos calor e afeto semelhantes aos que lhe deram sua amadíssima Mãe, São José, os Pastores e os Reis Magos.