3º Domingo da Páscoa – 18/04/2021
Após acusar com dureza os israelitas pela morte de Cristo, São Pedro tenta relevar a malícia deles: “Irmãos, sei que agistes por ignorância” (At 3,17). Algo semelhante fez o Senhor ao ser crucificado, quando orou: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Também São Paulo, referindo-se ao tempo em que era “blasfemo, perseguidor e insolente”, disse que, então, agira “por ignorância” (1Tm 1,13).
Com essas palavras, não se quer insinuar que os autores de um crime cruel, como a crucifixão do “Autor da Vida” (cf. At 3,15), sejam uns “coitadinhos” sem consciência e sem culpa. Ao invés, o Senhor quer nos recordar que o pecado comporta sempre, em maior ou menor grau, certa “ignorância” que lhe é própria. Afinal, se soubéssemos exatamente como ele é mau, repugnante, merecedor de castigo, e como contradiz a santidade de Deus e Seu plano para nós, jamais teríamos coragem de fazer um só pecado deliberado.
Quem se acomoda na prática do mal ou até ostenta com orgulho suas obras más é um “ignorante”. Isto é, não conhece a Deus! Vive nas trevas e nem sequer tem condições de se dar conta. Afinal, “para saber que conhecemos a Deus, vejamos se guardamos os seus mandamentos” (1Jo 2,3). Pecar é “ignorar” o Senhor! Na Escritura, “conhecer” tem um sentido não só intelectual, mas de união e configuração com o que conhecemos. Ora, quem escolhe se unir ao pecado se torna cego para Deus, assim como os habitantes perversos de Sodoma (cf. Gn 19,11). E, uma vez cego para o Senhor, é incapaz de ver suas próprias misérias.
Frieza com Deus e com o próximo, faltas à missa dominical, mentiras, furtos, calúnias, perversão, promiscuidade, perjúrios, homicídios… Apartado da graça, o ser humano é capaz de se habituar a tudo! Na primeira vez, sente remorso. Insistindo no mesmo mal, a reprovação da consciência se torna cada vez mais débil. Uma vez adquirido o vício, aquilo que causava desgosto passa a gerar até satisfação. Enfim, chega-se à dureza de coração. Não é que o mal tenha deixado de ser mal… O que houve é que a consciência se deformou, corrompeu-se, envolveu-se em trevas.
Neste sentido, um grande santo, que jamais consente em uma falta ainda que leve, “sabe” melhor o que é o pecado do que o pecador mais empedernido. Afinal, os santos veem as coisas à luz de Deus, a Quem conhecem e com Quem se unem. Portanto, odeiam o pecado! O Cura d’Ars chorava ao falar de ofensas a Deus. As crianças de Fátima, em Portugal, faziam penitências pesadíssimas pela conversão dos “pobres pecadores”. E São Paulo aceitaria até ser maldito e segregado de Cristo, se isso servisse à conversão de seus irmãos (cf. Rm 9,3).
Neste domingo, Jesus Ressuscitado “abriu a inteligência dos discípulos” (Lc 24,45). Peçamos-Lhe que, por meio da graça, abra-nos a inteligência! Que, conhecendo a Sua bondade, detestemos o mal! Que sua luz extirpe de nós essa “ignorância” que é fruto do pecado e que leva a pecar. Pois, “quem peca não O viu nem O conheceu” (1Jo 3,6). E, quem não O conhece, não ama!