18º DOMINGO DO TEMPO COMUM 2 DE AGOSTO DE 2020
A multiplicação dos pães foi um dos milagres mais extraordinários do Senhor. Diferentemente de outros, feitos com discrição e na presença de poucas pessoas, este se deu em campo aberto e beneficiou a muitos. Segundo São João, seu efeito foi tamanho que, depois de testemunhá-lo, a multidão queria proclamar Cristo como rei (cf. Jo 6,15).
Nosso Senhor mostrou que não abandonaria aqueles que se dispuseram a segui-lo e ouvi-lo, mesmo em um lugar distante e deserto. Saciando uma necessidade corporal tão essencial como a fome, Ele mostrava sua compaixão e cumpria a profecia: “Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo” (Is 55,2).
O paradoxo deste prodígio é que, no início do Evangelho, satanás tentara o Senhor justamente sugerindo-lhe a transformação de pedras em pão. Na ocasião, Ele rejeitou saciar a própria fome: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Com a multidão imprevidente que o escutava, no entanto, o Senhor foi menos severo do que consigo. Dava-lhes a Palavra de Deus sem negligenciar o alimento corporal.
Por meio da saciedade física, encaminhavalhes a dar-se conta do desejo espiritual que só Ele pode aliviar. Em outra ocasião, prometera à samaritana que buscava água numa fonte: “Quem beber da água que Eu darei nunca mais terá sede” (Jo 4,14). E, com a multiplicação dos pães, o Senhor preparava os corações daquela multidão para um milagre ainda maior, que instituiria na Última Ceia: a distribuição do seu próprio Corpo, que Ele chamaria de Pão da Vida. A Eucaristia sacia suave e profundamente nesta vida e leva à saciedade eterna no Reino dos Céus!
Os gestos, de algum modo, antecipam o que Cristo faria no cenáculo: “Ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida, partiu os pães e os deu aos discípulos” (Mt 14,19). Obviamente, muitos eram incapazes de compreender a pedagogia do Mestre, e se limitariam a esperar dele a saciedade corporal. Mais tarde, o Senhor os corrigiria: “Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27).
Socorrer a fome e a sede, dar abrigo, visitar enfermos, encarcerados, e dar de vestir aos pobres são ações que saciam tanto quem recebe quanto quem as pratica! Além de obras de misericórdia para com o próximo, constituem uma lembrança de que o Senhor promete nos saciar de graça: “Vós, que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei” (Is 55,1). Também as obras de misericórdia espiritual – ensinar, dar bom conselho, corrigir, perdoar, consolar, ter paciência, rezar – são meios para recordar, de modo direto, a fome espiritual e a sede de Deus que consomem o mais profundo das criaturas.
No Evangelho, o Senhor sacia 5 mil homens, além das mulheres e crianças… Quantas pessoas redimidas por seu Sangue e alimentadas pelo Pão da Vida ao longo dos séculos o Senhor saciará eternamente no Céu!