Antes de curar a um cego, o Senhor afirmara que aquela cegueira serviria para que as obras de Deus se manifestassem. Neste domingo, diz algo semelhante: “Esta doença não leva à morte, mas serve para a glória de Deus” (Jo 11,4). Mais até do que uma doença, Ele agora converte a própria morte de seu amigo Lázaro em um instrumento para mover os homens à fé. E porque Cristo assumiu plenamente os sentimentos e afetos humanos – sem, é claro, a desordem do pecado –, ao ver Marta e Maria chorando a morte do irmão, Ele “estremeceu interiormente e ficou profundamente comovido” (Jo 11,34).
Jesus não se deparava apenas com a dor de pessoas queridas; o choro e a aflição dos presentes representam aquilo que Ele veio remediar: a morte, salário amargo do pecado (Rm 6,23). No rosto dos amigos enlutados, talvez o Senhor contemplasse a dor, a orfandade, a solidão, as saudades e o vazio que a morte e o pecado causariam ao longo da história humana. Quem sabe, Jesus pensava também em tantos homens pelos quais estava disposto a derramar o seu Sangue mas que, sem fé nem caridade, escolheriam para si uma eternidade afastada da Vida.
Quando o chamaram ao túmulo, “Jesus chorou” (Jo 11,35) ou, literalmente, “correram-lhe lágrimas”. Em outra ocasião, o Senhor chorou sobre Jerusalém: “Se hoje tu conhecesses a mensagem de paz! Não reconhecestes o dia em que foste visitada!” (Lc 19,42.44). Não chorava por se sentir privado de algo, mas por ver a privação que os homens, por causa do pecado, impõem-se a si mesmos e aos outros. Com essa visão, mais tarde, carregando a Cruz por Jerusalém, Jesus diria às mulheres que choravam de compaixão: “Não choreis por Mim; chorai por vós e por vossos filhos! Se fazem assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?” (Lc 23,28.31).
O choro de Cristo não é um simples desabafo ou um sentimento impotente. Suas lágrimas lhe valeram a Ressurreição e, a nós, a salvação. A carta aos Hebreus afirma que “nos dias de sua vida terrestre, Ele apresentou pedidos e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa da sua piedade” (Hb 5,7). A oração unida às lágrimas é irresistível ao Pai eterno! A Santa Mônica, que chorava e orava pela conversão do filho, Santo Ambrósio prometeu: “Não pode perecer o filho de tantas lágrimas”. A dor eleva a oração mais facilmente até o Céu!
Pois bem, depois de chorar, Jesus “levantou os olhos para o alto”, deu graças ao Pai, e ordenou: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43). Então, segundo o Evangelho, muitos dos judeus presentes “viram o que Jesus fizera e creram nele” (Jo 11,45). Viram a “fraqueza” das lágrimas de Jesus e a “força” da ressurreição de Lázaro… E creram! Também na Paixão, Jesus mostraria fraqueza e preces: angustiado, ferido e humilhado, Ele orou no horto e ao ser Crucificado. Da mistura do seu Sangue e de suas lágrimas, veio-nos fé e a salvação. Vendo a “fraqueza” de Jesus morto, o soldado creu: ‘Este era o Filho de Deus’ (Mt 27,54).