SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR 24 DE MAIO DE 2020
Na Ascensão, Jesus não se afastou deste mundo. Continua vivo e presente entre nós, mas de uma maneira diversa. Os Atos dos Apóstolos narram assim esse acontecimento: “Uma nuvem o ocultou de seus olhos” (At 1,9). Ele continua conosco, porém, de modo invisível. Isso acontece primeiramente na Hóstia consagrada, na qual Jesus está, inclusive fisicamente, em corpo, sangue, alma e divindade. Além disso, no entanto, é Ele quem age nos demais sacramentos; quem fala quando a Igreja ensina o Evangelho; quem atua nas obras de caridade dos cristãos.
Dizer que Cristo “está sentado à direita do Pai” significa que o seu Corpo ressuscitado – o mesmo que recebemos na Comunhão – já entrou na glória. Ele está “bem acima de toda a autoridade, poder, potência e soberania” e possui “tudo sob os seus pés” (Ef 1,20-22). Mas não está longe! Pois prometeu: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Paradoxalmente, na Ascensão, o Senhor “se foi” para estar ainda mais próximo. Não apenas na Galileia e na Judeia, mas, em todas as igrejas do mundo onde uma lâmpada arde ao lado do sacrário, ali está o Senhor! Em todas as missas, ali está o seu único sacrifício! Em todas as Confissões, é Ele quem diz: “Eu te absolvo”. Em cada alma em graça, Ele é o hóspede. Tudo isso sem restrições de tempo e lugar.
Seria falta de humildade não reconhecer que tudo o que há de verdadeiramente santo e bom neste mundo – como os sacramentos e a vida dos santos – é, em última análise, uma obra de Jesus Cristo. Pois o mesmo Senhor que disse “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5), continua vivo na sua Igreja, conferindo-lhe eficácia e fidelidade. Aquela força que, segundo o Evangelho, “saía Dele e curava a todos” (Lc 6,19), levando a multidão a comprimi-lo para ao menos tocar a orla do seu manto, continua em plena eficácia. Essa ação silenciosa é o que leva a Igreja adiante.
Além disso, o Senhor subiu aos céus para que permaneçamos com Ele também depois desta vida! Na Última Ceia, Ele havia dito: “Eu vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,2). Quando o seu corpo glorificado se sentou no trono celestial reservado ao Filho de Deus, a natureza humana adquiriu um espaço no céu. E esta nossa natureza “um pouco menor do que os anjos”, que o Verbo assumiu, foi finalmente “coroada de honra e glória” (Hb 2,7). Portanto, Ele foi porque quer que estejamos com Ele!
Obrigando-nos a crer sem ainda ter visto o Senhor, a Ascensão serve para aumentar a nossa fé. Torna a nossa esperança e a nossa caridade mais sobrenaturais, pois nos ensina a viver com o desejo direcionado para o céu. De lá, o Senhor retornará, para julgar vivos e mortos, e para nos fazer participar com Ele da vida eterna. Afinal, “a nossa pátria está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20s).