Quarenta dias após a Ressurreição, o Senhor Jesus subiu aos Céus. Isso não significa que passou a estar “ausente”. Ele mesmo prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). A partir da Ascensão, Jesus apenas desapareceu da vista de seus discípulos, “de forma que seus olhos não mais podiam vê-Lo” (At 1,9). Ele, porém, continua presente e vivo em seu Corpo Místico que é a Igreja, nas almas daqueles que creem e, de modo especial, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Sem se distanciar, o Senhor foi como que “encoberto”, para que a sua vida continuasse por meio de nós. Não podemos vê-Lo e ouvi-Lo como faziam os primeiros discípulos; podemos, contudo, buscá-Lo, conhecê-Lo e mesmo perceber a sua presença por trás do “véu” dos sacramentos, da Escritura e da prática do amor fraterno. Para nós – mais ainda que para os Apóstolos – valem as palavras ditas a São Tomé: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29). Para nós – que não pudemos nos sentar à mesa e olhar nos olhos do Senhor –, brilha a certeza de que “o justo viverá da fé” (Rm 1,17).
Subindo aos Céus, Jesus obriga a Igreja a viver de fé! Mas não somente: depois da Ascensão, a presença de Cristo não está limitada a este ou aquele lugar… Onde quer que esteja presente a sua Igreja; onde quer que a Eucaristia seja celebrada; onde arder uma lâmpada junto ao sacrário; onde o Evangelho for proclamado e vivido; onde existir amor verdadeiro a Deus e ao próximo, ali Jesus Cristo ressuscitado estará presente. Quem assegura essa presença é o Espírito Santo, que age pelos sacramentos nas almas dos fiéis.
O Senhor havia dito na Última Ceia: “É de vosso interesse que eu parta, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-lo-ei a vós” (Jo 16,7). No dia da Ascensão, intensifica-se a espera pela efusão do Espírito Santo, que ocorrerá em Pentecostes. Unida à Mãe de Jesus em oração no Cenáculo, a Igreja aguarda ansiosa durante ainda dez dias, até que o divino Paráclito a enriqueça com a plenitude dos sacramentos, dos dons, frutos, carismas e, principalmente, com uma perfeita caridade.
Paradoxalmente, foi preciso que Nosso Senhor se ocultasse para que estivéssemos ainda mais unidos a Ele. Foi necessária uma aparente “separação” para que Ele viesse não apenas habitar “conosco”, mas viver em nós. De certo modo, cumpriram-se uma vez mais estas palavras de Jesus: “Quem encontra a sua vida, perdê-la-á; quem perde a sua vida por causa de mim, encontrá-la-á” (Mt 10,39). Para encontrar Aquele que tanto desejamos, é preciso passar pela impressão de que O perdemos.
Alegremo-nos, pois, com a Ascensão do Senhor! À direita do Pai nos altos Céus, sentado acima dos querubins, Ele está ainda mais próximo de nossas fadigas cotidianas. Vivo e vencedor, convida-nos à “esperança”, à “glória” e à “herança” (Ef 1,18) eternas. Glorioso, Ele traz o Céu à Terra e aos nossos corações. Portanto, “Corações ao alto”! E “Vinde, Espírito Santo”!