SOLENIDADE DE PENTECOSTES 31 DE MAIO DE 2020
As almas santas são como um veleiro. Nesta embarcação, o emprego da inteligência e da dedicação do piloto é necessário. Sua grande força motriz, porém, é externa: o vento. É preciso, portanto, saber reconhecê-lo, para desfraldar, recolher e direcionar as velas no tempo certo. Também na vida espiritual, a grande força necessária para a santificação é Deus. A “vela”, por meio da qual Ele nos leva adiante, são os dons do Espírito Santo, pois, “o vento sopra onde quer, e ouves o seu ruído, mas não sabes para onde vai; assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito Santo” (Jo 3,8).
Os “dons” são sete disposições habituais da alma em estado de graça, que podem ser reconhecidas e cultivadas por meio da oração. Eles se encontram em plenitude na alma de Cristo: “Repousará sobre ele o Espírito do Senhor: Espírito de sabedoria e entendimento; Espírito de conselho e fortaleza; Espírito de ciência e piedade; e o preencherá o Espírito de temor do Senhor” (Is 11,2-3). Os batizados, porém, O recebem por participação. Não se trata de uma simples “ajuda” de Deus. Os sete dons predispõem-nos habitualmente a receber as inspirações do Senhor, que age por meio de nós.
O “menor” dom é o santo temor, enquanto o “maior” é a sabedoria, pois “o início da sabedoria é o temor de Deus” (Eclo 1,16). O temor leva-nos à adoração a Deus e a decidir com todas as forças evitar ofendê-Lo. Ajuda- -nos a viver a temperança e refrear os desejos desordenados. A ele se une a piedade, que nos faz ver o Senhor como um Pai amoroso e Lhe prestar um culto constante e confiante. A prática do bem e da religião, porém, seria impossível sem o dom de fortaleza, que dá coragem diante das dificuldades e paciência em meio aos sofrimentos. Graças a ele, tornamo-nos “boa terra”, que “dá frutos por meio da paciência” (Lc 8,15).
Os dons do Espírito Santo atuam também no intelecto. Por meio do conselho, julgamos corretamente nossos próprios atos e intuímos o bem a ser feito em cada situação, conforme prometeu Jesus: “Não sois vós que falais, mas o Espírito do vosso Pai” (Mt 10,20). O dom da ciência nos impele à esperança na vida eterna, pois permite enxergar todas as criaturas na sua relação com Deus-Criador. Preserva-nos da avareza, da gula e da sensualidade. O dom do entendimento atua sobre a fé, levando-nos a penetrar aguçadamente nas verdades da Escritura e do Catecismo da Igreja Católica e a aderir a tudo o que Deus revelou. A sabedoria, enfim, consiste na contemplação pacífica, saborosa e repleta de amor das coisas divinas. Trata-se de um prelúdio do Céu.
Todos estes dons provêm do amor, pois o Espírito Santo é o Amor substancial de Deus. Foram-nos dados por meio dos sacramentos e se perdem todas as vezes que cometemos um pecado mortal. São mais valiosos do que o dom de línguas ou de profecia, pois são necessários para a salvação. Na festa de Pentecostes, imploramos ao Senhor que nos dê os seus sete dons: “Dai aos fiéis que em Vós confiam os sete dons sagrados” (“Sequência”).