‘Vinde a Mim’!

Neste domingo, Jesus nos faz um convite: ‘Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso’ (Mt 11,28). O Senhor não chama a si os desocupados, aqueles que têm a ‘vida ganha’, os que vivem no conforto e não têm problemas… Ele convida quem possui algum ‘fardo’: pecados, cansaço, doenças, dívidas, dificuldades ou medos. Afinal, Cristo afirma: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz e me siga’ (Mt 16,24). Não podemos nos iludir: um verdadeiro cristão sempre terá algum ‘peso sobre as costas’, seja físico ou moral. Esta é uma condição para se ir até Jesus.

No entanto, Nosso Senhor promete que esse peso será sempre suportável. Ele jamais permitirá que sejamos esmagados pelas dificuldades da vida, por maiores que sejam. Para quem está unido a Jesus por meio da fé e da graça santificante, as adversidades converter-se-ão em um doce encontro com o Salvador. O peso sobre as nossas costas se transforma, de certo modo, na Cruz do próprio Cristo. Por isso, Ele declara: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,30). O adjetivo ‘suave’ (em grego, chrēstós) pode ser traduzido também como ‘bom’, ‘prazeroso’. Com Jesus, aquilo que seria pesado, árido e sem sentido, pode se tornar um caminho de santificação e até mesmo um bem.

A condição necessária para que isso aconteça é que aceitemos as adversidades da vida. Não basta compreender que elas existem e que portanto estamos sujeitos a perdas, doenças, reveses financeiros, perseguições, injustiças etc. É preciso que nutramos na alma uma disposição habitual para abraçar e até mesmo amar as dificuldades, vendo nelas a ocasião para, como Simão de Cirene, ajudar o Senhor a carregar a sua Cruz. É necessário que jamais duvidemos de que Deus sempre saberá extrair um bem, até mesmo das piores tribulações, utilizando-as como instrumento para a nossa santificação.

A aceitação das dificuldades requer de nós uma virtude muito específica: a humildade. Ao convidar-nos a nos aproximar Dele com os nossos pesos e cansaços de cada dia, Jesus diz: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas” (Mt 11,29). Quanta humildade o Filho de Deus teve ao carregar silenciosa e pacientemente a sua Cruz! E, por outro lado, quanta soberba e impaciência temos ao nos depararmos com frustrações cotidianas! A falta de humildade torna insuportáveis as dificuldades da vida, que sempre existirão. A soberba nos leva a questionar a Deus, a duvidar de sua bondade, a nos rebelarmos contra as circunstâncias, a sermos mal-humorados, inquietos, autocompassivos, amargos e ainda mais cansados.

Peçamos a Jesus que nos dê muita humildade e que adoce, por meio da sua mansidão, as nossas cruzes de cada dia. Que sejamos humildes – ainda que pisados pelas circunstâncias – para que Deus possa nos revelar os seus mistérios (cf. Mt 11,25). Que Ele nos permita saborear a bondade da Cruz.

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