Nova humanidade

Setembro é o mês em que se inicia a primavera e também é o mês da Bíblia. Neste ano, o convite é conhecer, estudar e rezar a partir da Carta aos Efésios. Nesta carta, que mais parece uma bela homilia, o autor fala de uma nova humanidade que nasce a partir do Cristo Glorioso como cabeça do corpo, que é a Igreja universal. Essa nova humanidade implica um novo modo de viver: “Abandonem o modo como viviam antes, o homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. Que a mentalidade de vocês se renove espiritualmente. Que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o ser humano perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo. Assim, já não seremos crianças, jogadas pelas ondas e levados para cá e para lá por qualquer vento de doutrina” (Ef 4,13-14;22-24).

No entanto, não basta ter o nome de cristão. Aquele que se converteu precisa continuar fazendo a travessia, renunciando aos costumes errados e imorais do tempo em que era gentio: “Cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Se ficarem irados, não pequem. Que o sol não se ponha sobre a ira de vocês. Não deem espaço ao diabo. Quem roubava, não roube mais: ao contrário, ocupe-se trabalhando com as próprias mãos em algo útil, e tenha, assim, o que repartir com os pobres. Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao contrário, se for necessário, digam uma boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer o bem aos que ouvem. Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto e todo tipo de maldade. Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4,25-32).

O desafio dos cristãos de Éfeso era tão grande como o desafio dos cristãos da atualidade. Nas cidades, tanto ontem quanto hoje, existe uma convivência inevitável dos cristãos com pessoas que têm um jeito diferente de conduzir a vida e sua fé. Vale lembrar os preciosos conselhos e advertências feitas a respeito das coisas mais comuns da vida de cada dia: “Ninguém engane vocês com argumentos vazios; pessoa impura ou avarenta jamais terá herança no reino de Cristo; não participem das obras estéreis das trevas; denunciem tais obras; não vivam como tolos, mas como homens sensatos” (Ef 5,5-6.8.11.16).

O texto ainda trata da tirania do espírito do mal e do exército do diabo, uma referência às forças do império romano e suas autoridades que reinavam naquele tempo. Não convinha aos cristãos empreender luta frontal com essas forças, pois eram poucos, gente de periferia e com pouco poder aquisitivo. O importante era que, na família e na comunidade, vigorasse o espírito de Jesus Cristo Crucificado, a prática do amor ao próximo, do cuidado recíproco e da justiça.

Quase dois mil anos se passaram e o número de comunidades cristãs cresceu muito, já não somos somente gente pobre e de periferia. No entanto, o espírito do mal continua seduzindo pessoas de dentro e de fora das comunidades e se manifestando em quase todos os setores da sociedade. Cresce o número de igrejas cristãs e muitos continuam se declarando cristãos, mas a maldade prossegue devorando as pessoas pela fome, violência, exploração no trabalho, guerras, exploração do meio ambiente. Nossa missão, inspirada pela Carta aos Efésios, é nos deixar sensibilizar e nos mobilizar pelos gritos e pedidos de socorro que nos vêm de todos os lados, procurando entender melhor as causas da produção de toda essa violência que nos desumaniza.

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