O amor a Deus e ao próximo

31º Domingo do Tempo Comum – 31/10/2021

Ao mestre da lei que lhe perguntou qual o “primeiro” Mandamento, Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a sua força!”. Em seguida, sem que o outro o questionasse, fez questão de acrescentar: “O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” (Mc 12,30-31). 

O Senhor mostrou, deste modo, que o amor a Deus acima de todas as coisas (cf. Dt 6,5) e o amor ao próximo (cf. Lv 19,18), embora distintos, são duas realidades inseparáveis. Juntos, eles formam as duas tábuas que abarcam todos os Dez Mandamentos; afinal, a caridade é a plenitude da lei de Deus (cf. Rm 13,10). Estão de tal modo unidos e interpenetrados que, de um lado, é impossível amar a Deus sem amar o próximo; e, de outro, é impossível que haja verdadeiro amor ao próximo sem um vivo amor ao Pai que nos criou e sustenta. 

O Senhor então acrescenta: “Não existe outro mandamento maior do que estes” (Mc 12,31). Assim, trata a ambos quase que como um único Mandamento dotado de duas faces. Santo Agostinho ensina que o amor a Deus é o primeiro Mandamento “na ordem dos Preceitos”, enquanto o amor ao próximo é o primeiro “na ordem da execução”. Isso porque “quem não ama o irmão a quem vê não pode amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,20). Se queremos amar o Senhor, comecemos amando com obras o nosso próximo! Deste modo, segundo o Doutor de Hipona, “purificas o teu olhar para ver a Deus!”.

Para muitos que têm fé, a falta de uma dedicação concreta aos demais e de um sincero amor ao próximo é o obstáculo que atravanca seu crescimento espiritual. Vivendo para si mesmos, perdidos nas próprias preocupações e pensamentos, vão gradativamente decaindo no amor ao Senhor. Para essas almas, Jesus vai aos poucos se reduzindo a uma prática devocional externa, a um hábito frio ou a uma árida doutrina teológica. O resultado é que decaem na esperança e encontram muita dificuldade, inclusive em observar os Mandamentos mais elementares.

Ao contrário, quão numerosos são os exemplos de pessoas que viviam “sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12), mas redescobriram o rosto de Cristo a partir de um período da vida em que passaram a servir e amar mais o próximo! O nascimento de um filho, a companhia feita a um amigo enfermo, o trabalho em favor dos pobres, o serviço a um ancião e tantas outras obras de caridade são a fagulha que acende ou reanima o amor a Deus. Afinal, o Senhor mesmo prometeu “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos pequenos, foi a Mim que o fizestes” (Mt 25,40)! 

Uma vez que o indivíduo volta à graça santificante, recuperando o amor sobrenatural a Cristo, consegue, então, compreender essas palavras do Mestre. Ama a Deus no próximo e o próximo em Deus. Não é um filantropo ou justiceiro social, mas um homem ou mulher de caridade. Em tudo e em todos, contempla e ama a bondade do Pai eterno. E essa passa a ser sua grande força para amar mesmo na adversidade e até os inimigos. 

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