O Batismo de Cristo no rio Jordão é uma espécie de prolongamento de Sua Epifania. Ao lado da visita dos reis magos e da transformação da água em vinho, esse fato é considerado como parte da manifestação do Senhor aos homens. O Céu se abriu diante de João Batista, ouviu-se a voz do Pai, e o Espírito Santo repousou em forma de pomba sobre Jesus (cf. Lc 3,21). Trata-se da primeira revelação explícita da Santíssima Trindade.
São Lucas chama a atenção ao fato de que, durante o Batismo, Jesus rezava. Gosto de imaginar que Ele orava por cada um de nós – que viríamos a ser batizados. Afinal, logo após este acontecimento, o Senhor iniciaria a Sua pregação pública. Jesus, todavia, não recebeu o sacramento do Batismo – que Ele instituiria mais tarde para nossa salvação. O Batista disse claramente: “Eu batizo com água, mas [Jesus] vos batizaráno Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). Além disso, Cristo não tinha necessidade alguma de receber o banho de purificação administrado por São João.
Jesus entrou em meio ao “povo que estava sendo batizado” (Lc 3,21) – isto é, na fila dos pecadores – como parte do percurso de esvaziamento que culminaria em Sua morte de Cruz: “fazendo-Se semelhante aos homens, humilhou-Se” (Fl 2,7-8). Ao se submeter ao batismo de João, o Cordeiro inocente manifestou de modo inequívoco que nós pecadores devemos obedecer ao preceito universal que Ele legaria mais tarde à Igreja: “Fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,18). Se Ele foi batizado por João, quanto mais nós devemos aceitar o tesouro do Seu sacramento!
O Batismo de Cristo não O purificou; purificou, sim, as águas. Como em uma espécie de nova criação deste elemento sobre o qual o Espírito de Deus pairava no momento da formação do mundo, o Batismo do Senhor fez com que as águas se tornassem um instrumento de Deus para a santificação do ser humano. Em casos de necessidade, qualquer pessoa – mesmo leigo e até não cristão – pode batizar com água. Basta ter a intenção de fazer o que a Igreja faz e, concomitantemente à tríplice infusão ou imersão, dizer: “(Nome), eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Por meio desse gesto tão simples, o Pai eterno passa a ver a pessoa batizada como se fosse o próprio Jesus: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer” (Lc 3,22). À semelhança de Cristo, o Espírito Santo passa a ungir e a habitar aquele que foi banhado. Pelos méritos de Cristo, é-lhe dado o perdão do pecado original e de todas as culpas pessoais. A graça santificante ilumina-o por meio da fé, eleva-o pela caridade e orienta todo o seu ser para esperança na vida eterna no Céu, que se abre para o batizado. O Batismo marca eternamente aquele que o recebe com um selo sacramental; torna-o membro da Igreja, participante dos santos e filho amado da Virgem Maria.