O Evangelho mostra Cristo, com um chicote de cordas, expulsando os vendedores do templo de Jerusalém. Ele é manso, humilde e age sempre com paciência e compreensão para com os pecadores. Porém, não hesita em empregar uma energia extraordinária quando se trata de corrigir um erro grave e público que confunde as consciências, deforma a religião e profana o lugar sagrado.
“O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,17). O Senhor não agia por simples raiva, prepotência ou falta de autocontrole. Movia-se por uma justa ira, com plena consciência de sua missão educativa. Como não pertencia ao grupo dos sacerdotes e dos saduceus, os judeus perguntaram com que autoridade agia de tal modo. Então, o Senhor lhes deu uma resposta profética: “Destruí este Templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2,19). É evidente que Jesus não os incitava à destruição do templo, pois Ele “estava falando do Templo do seu corpo” (Jo 2,21).
Com essas palavras, Cristo previu quatro eventos: a sua morte; a sua ressurreição ao terceiro dia; a futura destruição do templo de Jerusalém; e a substituição do sacrifício de animais que ali se fazia pelo verdadeiro Sacrifício de seu Corpo. Ele instituiria na última Ceia a Eucaristia, verdadeira oblação que une o Céu à terra. E, anos mais tarde, o templo seria de fato destruído na grande revolta judaica. Assim, cessariam as oferendas de animais feitas até então, que eram apenas uma prefiguração da Santa Missa. O santuário de Jerusalém, literalmente, daria lugar ao Corpo de Cristo.
Nosso Senhor deixou, além disso, uma mostra de como a proclamação da verdade acarreta incompreensões e injustiças. Suas palavras seriam deformadas pelos opositores e tornar-se-iam causa de sua condenação à morte. Segundo falsas testemunhas, Ele teria dito: “Eu destruirei este templo” (Mc 14,58). Na crucifixão, os passantes blasfemariam contra o Salvador, dizendo: “Ah, aquele que destrói o templo e o reconstrói em três dias!” (Mc 15,29). Essa mentira chegaria até mesmo aos testemunhos falsos do processo contra Santo Estevão: “Nós ouvimos ele dizer que esse Jesus de Nazaré destruirá este lugar” (At 6,14).
No mundo dos homens, uma calúnia mil vezes repetida se torna uma verdade. Mas para Deus não é assim! O Senhor e seus discípulos seriam condenados por meio de mentiras, e tudo teve origem na perseguição ao bem; na raiva que os maus tiveram do zelo de Jesus. Eles não cuidavam das coisas de Deus, eram avarentos, desleixados e irreverentes. Usavam a religião para vantagens pessoais. Buscavam a glória humana e toleravam o que é abominável para o Senhor. Quando Cristo, porém, rechaçou com vigor sua má conduta – que era já notória – ficaram hipocritamente escandalizados. Então, exigiram “respeito”, “educação”, “compostura”, e, como resposta, usaram a mentira!
Que o Senhor nos conceda santificar o seu Nome, amar sempre o verdadeiro bem, aceitar humildemente as correções sofridas e jamais mentir contra o próximo.