O chicote do Senhor

3º Domingo da Quaresma – 07/03/2021

O Evangelho mostra Cristo, com um chicote de cordas, expulsando os vendedores do templo de Jerusalém. Ele é manso, humilde e age sempre com paciência e compreensão para com os pecadores. Não hesita, porém, em empregar uma energia extraordinária quando se trata de corrigir um erro grave e público, que confunde as consciências, deforma a religião e profana o lugar sagrado. 

“O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,17). O Senhor não agia por simples raiva, prepotência ou falta de autocontrole. Movia-se por uma justa ira, com plena consciência de sua missão educativa. Como não pertenciam ao grupo dos sacerdotes e dos saduceus, os judeus perguntaram com que autoridade agia de tal modo. Então, o Senhor lhes deu uma resposta profética: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2,19). É evidente que Jesus não os incitava à destruição do templo, pois Ele “estava falando do Templo do seu corpo” (Jo 2,21). 

Com essas palavras, Cristo previu quatro eventos: a sua morte; a sua ressurreição ao terceiro dia; a futura destruição do templo de Jerusalém; e a substituição do sacrifício de animais que ali se fazia pelo verdadeiro Sacrifício de seu Corpo. Afinal, Ele instituiria na Última Ceia a Eucaristia, verdadeira oblação que une o Céu à terra. E, anos mais tarde, o templo seria de fato destruído na grande revolta judaica. Assim, cessariam as oferendas de animais feitas até então, que eram apenas  uma prefiguração da Santa Missa. O santuário de Jerusalém, literalmente, daria lugar ao Corpo de Cristo. 

Nosso Senhor deixou, além disso, uma mostra de como a proclamação da verdade acarreta incompreensões e injustiças. Suas palavras seriam deformadas pelos opositores e se tornariam causa de sua condenação à morte. Segundo falsas testemunhas, Ele teria dito: “Eu destruirei este templo” (Mc 14,58). Na crucifixão, os passantes blasfemariam contra o Salvador dizendo: “Ah, aquele que destrói o templo e o reconstrói em três dias!” (Mc 15,29). Essa mentira chegaria até mesmo aos testemunhos falsos do processo contra Santo Estêvão: “Nós ouvimos ele dizer que Jesus de Nazaré destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deixou” (At 6,14). 

No mundo dos homens, uma calúnia mil vezes repetida se torna uma verdade… Mas para Deus não é assim! O Senhor e seus discípulos seriam condenados por meio de mentiras, e tudo teve origem no ódio ao bem; na raiva que os maus tiveram do zelo de Jesus. Eles não cuidavam das coisas de Deus, eram avarentos, desleixados e irreverentes. Usavam a religião para vantagens pessoais. Buscavam a glória humana e toleravam o que é abominável para o Senhor. Quando, porém, Cristo rechaçou com vigor sua má conduta – que era já notória – ficaram hipocritamente escandalizados. Então, exigiram “respeito”, “educação”, “compostura”, e, como resposta, usaram a mentira! 

Que o Senhor nos conceda santificar o seu Nome, amar sempre o bem, aceitar humildemente as correções sofridas e jamais mentir contra o próximo.      

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