Logo do Jornal O São Paulo Logo do Jornal O São Paulo

O que a política pública (ainda) pode aprender com Jacques Maritain 

Jacques Maritain (1882-1973) foi autor de mais de sessenta livros. Indiscutivelmente, juntamente com Chesterton, foi o pensador católico mais profundo, prolífico e influente do século XX. Seus interesses abrangentes incluíam metafísica, ética, lógica, política, história e teologia. Ele foi um dos principais líderes do renascimento moderno do tomismo. Nos últimos anos, cultivou uma profunda espiritualidade, e seus amigos tinham o prazer de dizer que ele era, acima de tudo, um homem bondoso e amante da sabedoria.

Maritain reconheceu a visão de Tomás de Aquino de que as verdades do intelecto estão vinculadas às leis naturais do mundo. Isso também se aplica à lei natural referente à moralidade. Não podemos ‘moldar’ a moralidade à medida que avançamos, trocando um valor moral por outro só porque um valor é mais moderno do que outro. Da mesma forma, no âmbito político, existem pilares da lei natural, chamados direitos naturais. Esses direitos estão intrínsecos à nossa natureza – e os conhecemos intuitivamente. Afirmou: “As sociedades podem ser dissuadidas desses direitos de vez em quando, mas os direitos, ainda assim, existem e são reunidos em uma única frase: ‘Amai-vos uns aos outros’”. 

Maritain admitia que a democracia é um negócio ‘complicado’. Acreditava que a democracia só funciona se as unidades menores do Estado (como famílias, igrejas e comunidades) puderem se organizar efetivamente para fazê-la funcionar.Segundo Maritain, o conhecimento político (enraizado na lei da nossa natureza humana), que não é aplicado democraticamente pode ser frustrado, “ao nos afastarmos de nosso instinto moral natural de fazer o bem e evitar o mal”. A democracia é o sistema certo para governar, mas o tipo certo de democracia é frequentemente frustrado pela tendência de algumas pessoas de distorcer a governança democrática para seus próprios propósitos egoístas. Assim, privados das coerentes obrigações éticas impostas pela religião, o individualismo promovido pelos líderes de uma democracia pode minar a democracia e as instituições democráticas.

Maritain via na integridade da família e na excelência dos sistemas educacionais os baluartes necessários contra um Estado totalitário. Se vivesse hoje, veria, como qualquer pessoa hoje pode reconhecer, que esses mesmos baluartes foram gravemente danificados por leis que incentivam a dissolução da família e a criação de sistemas educacionais rigidamente controlados e subsidiados pelo Estado para promover os interesses próprios. Vejam a atualidade da frase: “…Políticos politicamente corretos hoje tendem a não se guiar pelos princípios do personalismo cristão, mas sim pelos princípios que promovem a causa do socialismo. É no povo, e não nos burocratas, que se pode confiar.”

Como, então, uma democracia serve ao seu propósito da maneira mais frutífera? Desenvolvendo, segundo Maritain, uma ética do personalismo. O personalismo é a filosofia de elevar a pessoa a algo muito mais elevado. É o amor e o respeito que as pessoas têm umas pelas outras que, por si só, podem ser a base sólida para um sistema democrático bem-sucedido. Sem o personalismo, é inevitável que instrumentosmaterialistas do Estado sejam desenvolvidos para explorar o povo. O personalismo, portanto, traz uma perspectiva cristã de caridade para com todos, incluindo, insiste Maritain, o “direito de todos à assistência social, seguro-desemprego, auxílio-doença e previdência social”.

De Tomás de Aquino, ele pôde aprender o que o Cristianismo nos ensinou: que o amor vale mais que a inteligência. Sim, o intelecto é de grande importância; somos obrigados a buscar a verdade e usá-la. No entanto, ele disse: “Não precisamos de uma verdade que nos sirva, precisamos de uma verdade que possamos servir”.

Por fim, Maritain escreveu em “Primazia do Espiritual”, que não há política aceitável, sem dar importância ao lado espiritual do ser humano. Maritain será o grande defensor do conceito de pessoa humana, fundado na imortalidade da alma, dando à pessoa humana uma dignidade advinda de seu valor transcendente. Assim, propõe um novo modelo: “O Estado leigo vitalmente cristão, mas vitalmente impregnado pelo espírito cristão”. 

Deixe um comentário