Estamos no tempo litúrgico da Quaresma e somos convidados à conversão e à reconciliação com Deus e com os irmãos, rumo à Pascoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E neste percurso espiritual, como prática quaresmal, temos a Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Amizade Social”, e com um lema tão fundamental, chamativo e comprometedor: “Vós sois todos irmãos e irmãos”. São caminhos indicados para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico, que envolve a nós todos, como pessoas, famílias e instituições. É um chamado a resgatar os grandes ideais, os caminhos de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, em todas as relações que temos, sejam familiares e eclesiais, sejam sociais e políticas. Como nos recorda o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, referindo-se a São Francisco de Assis, devemos nos “dirigir a todos os irmãos e irmãs e lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho”. Sim, é preciso sonhar, e trabalhar, para que haja uma única e nova humanidade, na qual todos sejam verdadeiramente irmãos e irmãs.
O sabor do Evangelho se sente quando o amor ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço. Nesse sentido, é feliz quem ama o outro, o seu irmão, tanto quando está longe, quanto quando está junto de si. Aqui se encontra o essencial de uma “fraternidade aberta que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita” (cf. Fratelli tutti, n.1). Trata-se de esparramar este sabor na corresponsabilidade pela construção de relações fraternas, na proximidade com o outro, na procura do melhor para com o próximo, na construção de uma sociedade que saiba incluir, integrar e levantar aqueles que sofrem, os excluídos e marginalizados. Sabemos que Jesus Cristo, o Filho amado, o Redentor, veio a este mundo para anunciar a Boa Nova do Reino, e para cumprir a vontade do Pai, que ninguém se perca, que todos sejam salvos.
O perfume que exala do Evangelho, o odor de Cristo, se expressa fortemente no diálogo e no encontro com todos, sem acepção de pessoas, pois de todos se pode aprender alguma coisa, e, também, algo de bom se pode oferecer. As palavras, os gestos e as atitudes de proximidade, de afeto e de amabilidade contagiam as relações, superando toda forma de indiferença, agressividade e intolerância. No contexto histórico atual, é fundamental a promoção da paz, em todos os âmbitos, na busca e realização de uma sociedade baseada no serviço aos irmãos e na busca da reconciliação e do perdão. Falamos da arte do encontro e do diálogo, responsabilidade de cada um, uma tarefa que nunca termina, não se esgota jamais, pois devemos amar a todos, sem exceção. O sabor do Evangelho se expressa no perdão e na misericórdia, e que nos pede a renúncia da força destrutiva do mal, do ódio, da vingança.
Somos convidados, nesta Quaresma, a anunciar e testemunhar o doce sabor do Evangelho, no caminho de conversão e da penitência, da misericórdia e do perdão. Que seja infundido em nosso coração um espírito fraterno e que alimentemos sempre o sonho de um novo encontro, diálogo, justiça e paz, fraternidade e amizade social.
