Nosso Senhor compara o Reino dos Céus a um rei que prepara uma festa de casamento a seu filho. Trata-se de um evento não convencional… Como os convidados não quiseram comparecer, as portas foram escancaradas. Para que lugares não ficassem vazios e a abundante comida não se perdesse, “todos” foram convocados para as bodas, tanto os bons quanto os maus. Porém, “quando o rei entrou para ver os convidados, observou ali um homem que não estava usando traje de festa” (Mt 22,11). Então, mandou atirá-lo para fora, na escuridão onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22,13).
A reprimenda excessivamente dura faz ressoar o sentido profundo da “veste” nas Escrituras. Ela simboliza a semelhança com Deus; a condição de filhos em comunhão com Ele. Em estado deplorável depois do pecado, Adão e Eva se envergonharam do Senhor e cobriram-se com folhas de figueira (Gn 3,7). Do endemoniado de Gerasa se diz que “havia muito tempo que andava sem roupas” (Lc 8,27). Ao contrário, como sinal de predileção, Jacó fez uma túnica adornada para seu filho José (Gn 37,3). O pai do “Filho Pródigo”, ao reencontrá-lo, ordenou aos empregados: “Depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela!” (Lc 15,22). E Cristo, o Filho de Deus, usava uma túnica sem costura, da qual foi despojado antes da Crucifixão.
No Batismo, temos o costume de revestir o neófito com uma roupa branca, pois, conforme as palavras de São Paulo, “todos os que fostes batizados, vos revestistes de Cristo!” (Gl 3,27). O Apocalipse descreve, no Céu, uma multidão vestida de roupas brancas, alvejadas no Sangue do Cordeiro (Ap 7,14). Na Confissão, enxaguamos novamente essa “veste” espiritual no sangue de Cristo. Afinal, a Igreja está aberta e convida a todos… Mas não basta participar das funções litúrgicas; é preciso também estar com a veste adequada, envolvidos pela graça santificante.
Dar de vestir ao próximo contará como critério no dia do Juízo (Mt 25,36). Os patriarcas Sem e Jafé foram abençoados por cobrirem a nudez de Noé (Gn 9,27), enquanto Canaã foi maldito por vê-la e expô-la aos demais. Além disso, é preciso que ao nos vestirmos tenhamos o Senhor – e não somente os homens – diante dos olhos. Segundo Paulo, o cristão deve vestir-se com “vestes decentes, enfeitando-se com modéstia e sobriedade, não com cabelos frisados, ouro, pérolas ou vestidos de luxo, mas, sim, com boas obras” (1Tm 2,9-10)! Sobretudo, temos de nos “adornar” com a graça e a justiça!
Aliás, as roupas podem falar sobre nosso interior. Não devemos nos preocupar se são caras ou baratas, novas ou antigas, de marca ou não… Todavia, as vestes – ricas ou pobres – podem expressar dignidade, respeito, simplicidade, piedade, bom gosto, alegria, originalidade, disponibilidade de servir… Ou, ao contrário, vaidade, desleixo, ostentação, sensualidade, superficialidade, modismos…
Que nos vistamos para o Senhor, que é Quem nos vê a todo instante! E que jamais nos encontremos despojados da graça e das boas obras que vêm de Deus!