A Teologia do Corpo de São João Paulo II: a dignidade do corpo humano

Em suas catequeses sobre a teologia do corpo, São João Paulo II destaca que o homem é um ser único para Deus, sua relação não tem semelhança com qualquer outra criatura: só o homem tem esta relação de imagem e semelhança com o Criador.

Contudo, o homem pode arriscar-se a reconhecer-se como um entre os outros, a ponto de não reconhecer a sua solidão. Na sua distinção dos animais, o homem torna-se consciente do seu corpo, consciente da sua superioridade e diferença em relação aos animais e, em última análise, da sua dignidade como pessoa. O homem é capaz de perceber que a sua humanidade é exclusiva de Deus, pois é capaz de autoconsciência e autodeterminação. Nesta descoberta, ele encontra a definição de si mesmo diante de Deus: “A consciência corporal parece identificar-se com a descoberta da complexidade da própria estrutura, que consiste, em última instância, na relação entre alma e corpo”.

Há uma complementaridade que define o ser humano como sendo dotado de capacidades racionais que lhe permitem aspirar a dons superiores, como destacou Santo Agostinho na sua distinção entre a estatura corporal do homem e a dos animais (cf. Col 3,2). Ao contrário de todas as criaturas terrenas, o homem questiona-se sobre o significado do seu fim iminente […]. Graças ao corpo, a vida do homem é um caminho cuja origem e fim último é o Criador.

Ao reconhecer sua solidão, o homem sente a necessidade de se entregar a alguém como ele. As palavras do Gênesis 2,18 abrem-lhe a possibilidade de encontrar a realização da sua vocação. A solidão original encontra, assim, sentido na unidade original. Esta unidade original, que ilumina a realidade humana nos seus aspectos masculino e feminino, traz consigo os elementos específicos do sexo, que por meio da corporeidade denotam a sua diferença e complementaridade.

“A pessoa como um todo unificado, como espírito encarnado, é um fim que Deus deseja para si, nunca um meio”. Portanto, todas as dinâmicas utilitaristas, que veem o corpo como meio ou objeto, são repreensíveis, tal como o são em relação a outra pessoa. “Adão está diante de uma nova pessoa humana, cuja presença enriquece e amplia o horizonte da sua vida. […] O encontro interpessoal que revela o amor acontece justamente por meio do corpo”.

“Tanto os homens quanto as mulheres estavam nus, mas não tinham vergonha” (Gn 2,25). São João Paulo II afirma que este versículo é fundamental para a revelação sobre as origens. Estar nu sem ter vergonha “descreve inquestionavelmente o seu estado de consciência e até mesmo a sua experiência recíproca do corpo, isto é, a experiência do homem da feminilidade que se revela na nudez do corpo da mulher e, inversamente, a experiência da mulher da masculinidade revelada na nudez do corpo do homem”.

No limiar entre o estado original de inocência, em que não havia vergonha do corpo, e o estado depois do pecado – que faz com que Adão e Eva colocassem folhas de figueira para se cobrirem (cf. Gn 3,7), São João Paulo II nos diz que ocorre algo mais profundo do que o puro uso do sentido da visão: o estado de nudez coloca o homem em estado de vulnerabilidade – “Tal mudança refere-se diretamente à vivência do significado do próprio corpo diante do Criador e das criaturas”.

São João Paulo II ressalta que, por meio do corpo, a humanidade descobre a sua complementaridade (“carne da minha carne”) e a realização da unidade humana como expressão da imagem de Deus. O corpo como lugar de comunhão e não de individualismo, expressão da comunhão desejada por Deus para o homem e a mulher.

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Mônica Maroja
Mônica Maroja
2 meses atrás

Excelente reflexão sobre o corpo humano como templo do Espirito Santo. Parabéns !

Pedro Barros
Pedro Barros
2 meses atrás

Que benção de interpretação. Dr. Rodrigo é um conhecedor e praticamente da palavra.