Numa conversa, um amigo afirmou não ver ajuda alguma da Igreja Católica aos milhares de afligidos pela pandemia de COVID-19. Ele insistia, durante a discussão, que a Igreja se limitava a não atrapalhar, retomando atividades, evitando aglomerações. No entanto, não verificou, nos quatro meses iniciais, qualquer outra ação significativa. Nenhuma doação em dinheiro ou investimento. Querido amigo, gostaria de pedir-lhe um minuto de seu precioso tempo para, juntos, fazermos uma pequena análise que ajude a opinar melhor sobre o tema.
Em primeiro lugar, existe uma infinidade de entidades católicas que estão se dedicando a ajudar as pessoas em dificuldade neste tempo de pandemia e quarentena – principalmente as pessoas mais pobres. A Igreja no Brasil, por exemplo, por meio de sua ampla rede de fiéis, vem se mobilizando mediante a coleta de alimentos, roupas, calçados, medicamentos e oferecimento de abrigo e apoio espiritual para mais de meio milhão de pessoas. Na Região Norte, em resposta a uma provocação do Papa Francisco, bispos e religiosos apoiam o atendimento à saúde de ribeirinhos, superando 45 mil atendimentos!
Além disso, como ocorreu em outras pandemias ou situações emergenciais ao longo da história, nesta pandemia há, fundamentalmente, três tipos de pessoas que arriscam a própria vida para ficar junto com os doentes. Percebi esse fato revisitando, por exemplo, o que ocorreu com a epidemia de ebola, no continente africano. Esses tipos de pessoas são: parentes, médicos e/ou agentes da saúde, religiosos.
Os primeiros, ligados por laços de sangue e afeto, às vezes conscientes dos riscos, outras vezes não, decidem ficar junto com os doentes até o último momento. Os segundos, ligados por obrigações profissionais, escolhem manter-se próximos – ou são obrigados a isso –, ofertando seus conhecimentos, habilidades e trabalhos para favorecer o restabelecimento da saúde ou proporcionar uma morte digna aos doentes. Por fim, os religiosos, e aqui podemos acrescentar os voluntários não ligados a qualquer igreja, mas a ONGs nacionais ou internacionais, que, deliberadamente, ainda que com variados graus de consciência, entregam seu tempo para acompanhar, auxiliar, mobilizar, dar conforto emocional e existencial aos enfermos durante a doença.
Ora, não é verdade que “ama mais quem dá a vida por um amigo”? (Jo 15,13). A atual pandemia trouxe a angustiante situação, em vários países e circunstâncias, de parentes não terem sequer o direito de visitar ou acompanhar as exéquias de seus familiares. Por outro lado, reconhecemos o heroísmo dos profissionais da saúde, especialmente enfermeiros e técnicos, que passam horas ao lado dos enfermos, conscientes dos riscos que essa superexposição pode acarretar à sua saúde, além das consequências em suas próprias famílias. Não é assombroso, portanto, reconhecer que, não fosse por obrigação profissional, ou tendo a possibilidade de continuar o trabalho em melhores condições, tais profissionais escolhessem não se expor ou arriscar a vida!
A Igreja, como organismo vivo, terá desempenhos distintos em cada região. Além das iniciativas concretas já listadas, contudo, durante os quatro meses de pandemia da COVID-19, dezenas de religiosos e religiosas perderam suas vidas, muitos deles ainda em pleno exercício de suas funções clericais. Como ocorreu outras vezes na história, leigos e religiosos entregam a vida pelos doentes. É certo que muito ainda se pode e se deve fazer. Talvez, porém, não seja a quantidade que determine o valor do ato, senão seu significado de amor e entrega verdadeiros.