Em abril, o Papa Francisco, em uma das catequeses semanais, refletiu sobre o lugar da Meditação no caminho cristão. Começou apontando que meditar – em sentido amplo – se encontra, em maior ou menor medida, em todas as religiões; que desde os primórdios a tradição monástica cristã e a dos “santos do deserto”, por exemplo, valorizam práticas contemplativas e meditativas de oração. Nas últimas décadas, além disso, meditar tem sido reconhecido como atividade significativa, mesmo por não religiosos (mindfulness). Isso, em si, é um bem. A prática laica da meditação nasce do reconhecimento de que a agitação, frenesi e barulho do dia a dia prejudicam nossa capacidade cognitiva, afetiva e mental, exigindo “voltarmo-nos para o silêncio”. Assim, meditar tornou-se sinônimo de autocuidado.
O Santo Padre nos alerta, contudo, para o fato de nós, cristãos, não confundirmos essa prática – tão acessível e difundida atualmente – com o meditar cristão. Se na primeira – meditação laica – o método (técnicas e posturas) torna-se mais do que um caminho, mas o próprio fim; na meditação cristã, por outro lado, o método é sobretudo um meio para se chegar a Cristo, para crescer no reconhecimento de sua Presença.
Nesse sentido, mais uma vez nos voltamos para Maria, com ensinamentos a registrar e seguir.
Diz-se que São José é o Santo do silêncio, mas não se deve esquecer que também Maria falava com ponderação e “tudo guardava e meditava em seu coração” (Lc 2,19). A jovem judia meditava as Escrituras no silêncio e orava quando fora visitada pelo Arcanjo Gabriel. Deixou-se iluminar pelo Espírito Santo quando recitou o Magnificat. Abriu os olhos e admirou-se (interessante que, em italiano, o verbo guardar significa “olhar”) das maravilhas que pastores e Reis Magos diziam sobre o recém-nascido. Foi transparente, como cabe às mães zelosas, ao menino Jesus no Templo sobre o que ela e José sentiram em Sua procura. Pediu um milagre e o obteve na festa de casamento em Caná; estava de pé, em sua última dor, observando o filho pendendo sobre a Cruz.
O silêncio em Maria é aquela atitude corporal e existencial de abertura e expectativa para com a realidade em sua totalidade, entendida como Mistério – porque Deus não se resume jamais a uma única palavra ou sentença. Ela “guardava tudo”, quer dizer, tudo é sinal e manifestação de Deus, portanto, tudo deve ser levado em consideração. Trata-se de um silêncio ativo, engajado, que não é sinônimo de “ausência de barulho”.
O Papa nos exorta a não adentrarmos nas práticas meditativas apenas com o objetivo de desenvolver nosso “eu”. O cristão sabe-se fruto de um “relacionamento”. Na meditação cristã – no guardar tudo e acolher com simplicidade a presença desse Outro (Espírito Santo) que nos comunica de modos inesperados –, entregamos o nosso nada e recebemos nosso “eu” transformado, enraizado em Cristo. E isso, aprendemos com Maria.
Dener Luiz da Silva é professor de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).