Nas últimas décadas, o dia 1º de maio evoca uma série de expressões ambíguas. São elas, a reforma trabalhista, flexibilização, terceirização, uberização… Longe de representar avanços na existência dos trabalhadores, revelam, ao contrário, certa precariedade progressiva em termos de relações de trabalho. Em vez de melhor bem-estar, trazem insegurança, incerteza, instabilidade, inquietude. Sabemos que o prefixo “in” designa algo negativo, tanto em relação ao emprego quanto ao sustento da família. O filósofo Hegel se referia a esse prefixo como a fissura para a dinâmica dialética das mudanças.
Por que isso? A verdade é que, desde a década de 1970, o sistema capitalista de produção amarga uma crise prolongada, com altos e baixos. Diante disso, em nível nacional e internacional, como compensar as perdas? Por meio de fusões de empresas e formação de conglomerados; pela instalação de unidades de produção é mais abundante a matéria-prima; por meio do crescente enxugamento do pessoal empregado!… Mas a pior delas consiste na tentativa de jogar sobre os ombros dos trabalhadores o ônus dos encargos sociais, o que aumenta o bônus da empresa, juntamente com o lucro e a acumulação de capital.
Disso resulta que os direitos adquiridos, longamente conquistados pela luta sindical ou pela legislação trabalhista, acabam se reconvertendo em mercadoria. E esta, como todo produto, deve ser comprada e paga. O trabalhador passa então a arcar com a própria Previdência Social, com os gastos relativos à aposentadoria e outros benefícios do chamado Estado de bem-estar social. Tanto que, nos dias atuais, dispor de um emprego estável e bem remunerado é um luxo para uma minoria privilegiada. Grande parte dos empregos disponíveis não passa de serviços efêmeros, temporários e instáveis. Daí o aumento do trabalho informal ou análogo à escravidão.
Certo, alguns milhares de carteiras assinadas surgem a cada ano. Isso não basta, porém, para dar conta da mão-de-obra que anualmente chega ao mercado. Nessa desesperada busca por trabalho, os mais vulneráveis acabam sendo as mulheres e os jovens sem experiência, mas igualmente as crianças e os migrantes. Um país fornecedor de carne, minério de ferro, grãos, madeira e outros produtos primários gera poucos postos de trabalho. É a manufatura que emprega. Historicamente, trata-se de uma produção quase que extrativista. Gera mais empregos nos países desenvolvidos do que trabalho estável em território nacional.
Semelhante cenário explica o crescimento do desemprego e da procura por “bicos” da população de rua, e a migração em massa. Explica também o discurso do empreendedorismo. Se é verdade que ele pode alavancar o indivíduo e sua família, também é certo que, em muitos casos, representa uma espécie de autoexploração. Basta constatar o que ocorre muitas vezes com os entregadores motociclistas e os motoristas de veículos por aplicativos. Qualquer coisa que aconteça, mesmo durante o trabalho, são eles que devem arcar com todos os gastos, sem qualquer segurança por parte das empresas. O desafio aqui é fazer daqueles “in” negativos que vimos acima, portas de entrada para a tomada de consciência, a organização e a mobilização.