Durante muito tempo, a Bíblia ficou longe do povo, especialmente no contexto católico. A Reforma, há cerca de 500 anos, usou a Bíblia como um instrumento para o ‘combate’: os protestantes acreditavam que dar a Bíblia ao povo era a solução para restaurar a autêntica vida cristã. Nasceram, assim, muitas traduções da Bíblia, em ambiente protestante, como a Almeida, em português. A contrarreforma, promovida pela Igreja Católica, acentuou outro comportamento: preservou a Bíblia do ‘consumo’ popular e a isolou, colocando-a quase exclusivamente no púlpito. Como consequência, as Escrituras ficaram bastante inacessíveis à maioria dos católicos. Essa situação começou a mudar somente há algumas décadas, certamente graças à promoção do estudo e do uso da Bíblia por parte das comunidades protestantes e, mais tarde, pelas igrejas evangélicas.
Junto com a sede pela Palavra de Deus, detectamos, infelizmente, um aumento da leitura fundamentalista. Esse é o risco que corre quem se aproxima das Escrituras sem uma mediação, sem instrumentos adequados. Os livros da Bíblia foram escritos há muito tempo e não é fácil para nós entendermos todas as suas lógicas. A mentalidade, a língua, a geografia e os símbolos usados por ela são tomados de uma realidade profundamente diferente da nossa.
Paralelamente a isso, podemos recordar que a difusão das ciências levou muitos a questionarem as narrações bíblicas, colocando em xeque a sua verdade. Contrapondo essa crítica, outros defendem, com unhas e dentes, a exatidão de quanto está escrito na Bíblia. Há muitos que não conseguem admitir que cabe às ciências explicarem como se deu a evolução da espécie humana e não à narração do Gênesis. Tudo na Bíblia é verdadeiro, como afirma o Magistério. Mas podemos também dizer, sem medo, que nem tudo o que está escrito na Bíblia, conforme o nosso ponto de vista de crônica da história, é exato. Essa afirmação não compromete em nada a autoridade das Escrituras, mas apenas revela a sua natureza, que não é a de ser uma crônica ou um livro científico, mas de transmitir o sentido que o autor inspirado descobriu nos eventos que marcaram a vida da humanidade, em geral, e do povo de Israel, em particular. Essas verdades transmitidas não são meras descobertas humanas, mas aquilo que Deus mesmo quis transmitir. É evidente a necessidade da presença de um mediador.
É óbvio que fazer exegese, em sentido lato, está ao alcance de todos, pois basta abrir a Bíblia e tentar compreendê-la para entrar nessa dinâmica. Esse é o primeiro estágio, mas uma fé verdadeira busca entender e não se contenta com o passo dado. Para ir além, é necessário estudo, é necessário uma metodologia que pode ser adquirida de muitas maneiras. Além do estudo acadêmico clássico, o mundo digital oferece inúmeras ferramentas. O site abiblia.org, que criamos há 20 anos, pode ser considerado um desses instrumentos. Ele responde a perguntas dos leitores, de maneira muito simples, mas com uma preocupação científica.