A Constituição Apostólica Veritatis Gaudium (Alegria da Verdade) sobre as universidades e as faculdades eclesiásticas da Igreja Católica, publicada pelo Papa Francisco em dezembro de 2017, reafirmou a centralidade da história para o cristianismo e o encontro com Jesus Cristo também no mundo acadêmico e científico. A história para a fé cristã é a condição para compreender a encarnação do Verbo, e o Povo de Deus, enquanto peregrino pelos caminhos da história, é chamado a unir-se solidariamente com a humanidade para construir uma civilização. Em consonância com uma longuíssima relação do catolicismo com o mundo acadêmico, o Papa insiste sobre a missão evangelizadora da Igreja e sua relação com o vasto e diversificado sistema das universidades e da ciência.
De fato, não há sentido em separar teologia e pastoral, fé e vida cotidiana. O Concílio Vaticano II foi uma clara mensagem de superação dessa absurda divisão e, consequentemente, de uma interação entre a ciência produzida pela comunidade universitária e o mistério de Cristo, considerando que a compreensão da ressurreição de Jesus repercute na história da humanidade e na vida eclesial. Nesse contexto, é necessário dialogar com a cultura contemporânea e ouvir os seus problemas, conhecer suas feridas e participar de suas soluções. Na realidade, a meditação e o estudo da Sagrada Escritura, a participação assídua e consciente na Liturgia e o estudo sistemático da Teologia interagem com o contexto histórico e social. Podemos então dizer que não existe ciência teológica ausente da Igreja local, como não existe fé distante da realidade social.
A visão integral dos estudos na universidade que considera a pessoa em sua totalidade e inserida em sua cultura é uma exigência da fé cristã e, por isso, uma exigência de que o Povo de Deus se prepare para a evangelização. As universidades católicas e faculdades eclesiásticas constituem “uma espécie de providencial laboratório cultural, onde a Igreja se exercita na interpretação da realidade que brota do evento de Jesus Cristo e se nutre dos dons da Sabedoria e da Ciência” e se torna um valor imprescindível para uma “Igreja em saída”
Nesse sentido, a nova Constituição Apostólica do Papa Francisco elenca quatro critérios para uma renovação dos estudos que contemple uma “Igreja em saída” e em diálogo com a cultura, sendo: 1. O anúncio do Evangelho é uma feliz notícia, principalmente aos pobres, que brota do mistério da Trindade e que propicia uma missionariedade solidária com as realidades locais e internacionais; 2. A abertura ao diálogo com a cultura não significa mera estratégia de convencimento, mas trata-se de uma exigência da vida comunitária, ou seja, da vida social e eclesial; 3. Consequentemente, a interdisciplinaridade das ciências, incluída a teologia, é um “princípio vital e intelectual da unidade do saber na distinção e no respeito pelas suas múltiplas, conexas e convergentes expressões”, princípio capaz de realizar uma síntese orientadora para a vida, conectando os estudos com os problemas práticos do cotidiano; 4. As redes entre as instituições católicas e laicas colaboram na promoção de estudos com abertura à internacionalização e inspiram o respeito e o cultivo das diversas tradições culturais e religiosas.