Romualdo e sua proposta de vida

Em meio às festas juninas, com tantos santos conhecidíssimos entre nós, a Igreja celebra, no dia 19, São Romualdo, o último santo venerado tanto pelo oriente quanto pelo ocidente católico, porque morreu cerca de 20 anos antes da divisão das Igrejas do Oriente e do Ocidente que ocorreu em 1054. Um santo ecumênico, um convite de esperança para nós, hoje, quando procuramos nos abrir e viver em comunhão com as outras Igrejas. A unidade e a comunhão encontram-se também na diversidade dos que se dirigem a Deus e escutam a sua Palavra.

Tendo vivido há mil anos, seu exemplo de vida, seu o amor a Jesus e às Escrituras, ainda hoje fascina e atrai. Seu estilo de vida, sem que ele quisesse ser fundador, deu origem à Congregação dos monges e monjas camaldolenses. Para alguns biógrafos, é definido como o “profeta da virada do primeiro milênio e da reforma monástica”. Sua mensagem permanece atual: precisamos de Deus e da familiaridade com a sua Palavra.

Nas mudanças de época, apesar de se falar continuamente da necessidade de valorizar a pessoa e a dignidade humana, vive-se frequentemente uma crescente degradação do humano, de tudo o que há em nossa natureza e traz a imagem de Deus. Em direção oposta, a doutrina espiritual de Romualdo centra-se no respeito pela pessoa em cada uma das suas etapas de crescimento, aplicando o princípio evangélico de que a regra deve adaptar-se à pessoa e não a pessoa à regra.

Sua vida espiritual estava em constante movimento e, portanto, o seu modo de viver o amor a Deus assumiu várias formas. Seu caminho seguiu a sua capacidade, em cada momento, de abertura a Deus e de percepção da Sua vontade. Ora o vemos partir para a missão, ora fechado em uma cela eremítica. É o dom que deixou a quantos se reuniram à sua volta para partilhar o seu estilo de vida, chamado, por um de seus discípulos, de triplex bonum (três coisas boas), em que a multiplicidade e a diversidade de formas de vida monástica não prejudicam a unidade. Tudo é harmonizado pelo amor: eremitério, comunidade monástica e missão.

Por isso, a família camaldolense é muito diversificada em termos de formas. Romualdo viveu e nos deixou como seu carisma a liberdade espiritual. Ele próprio iniciou a sua vida monástica como beneditino, mas alguns anos depois voltou-se para a vida eremítica, segundo a tradição oriental e inicial do monaquismo; permitindo que o carisma beneditino se ampliasse. A última fundação de Romualdo é Camaldoli, numa floresta na Toscana, composta de duas realidades monásticas intimamente ligadas entre si: um eremitério e um mosteiro. Talvez por causa dessa flexibilidade nas formas de vida, apesar de sua localização, o mosteiro se tornou o centro do diálogo ecumênico desde o século passado.

Dizia que é melhor, se possível, cantar um único salmo com o coração atento e contrição, do que recitar cem, vagando com a mente… A quem dizia que rezar tão pouco é suficiente? Talvez a nós, acostumados a orações, devoções, cerimônias, ainda que nossa mente voe em todas as direções, que não seja fácil imaginar que bastaria rezar um único salmo… Mas é profundamente verdade que a intimidade da contrição do coração é encontrar-se com Deus; e é esta também a finalidade da nossa oração.

Sua “Pequena Regra” pode ser uma inspiração para todo cristão que, como Jesus convida, entre em seu quarto, atento ao próprio coração, para rezar: “Quando rezar, entre no seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai em segredo; e seu Pai, que vê em segredo, lhe recompensará” (Mt 6,6). É a oração e o silêncio com Deus que lentamente transforma o coração humano e o santifica, como aconteceu com Romualdo.

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