O título remete ao livro homônimo de Frantz Fanon (Les damnés de la terre, 1961). Em primeiro lugar, porém, a própria Terra, como “nossa Casa Comum”, na expressão do Papa Francisco, está condenada. Cientistas, estudiosos de diversas áreas do conhecimento, ambientalistas, agentes e lideranças não se cansam de alertar insistentemente para os danos causados pela humanidade ao ecossistema integral e conectado deste planeta.
A vertiginosa velocidade que a Revolução Industrial imprimiu à capacidade mundial de produção, consumo e descarte contribuiu notavelmente para devastar e desertificar crescentes áreas do solo. Tendo o lucro como motor e a acumulação do capital como objetivo, o sistema da política e da economia globalizadas explora todos os bens naturais, convertendo-os em mercadoria. A natureza, por sua vez, com seu ritmo lento, sóbrio e sábio, não dá conta de reciclar as florestas, o ar e a água, o solo e subsolo com essa frenética velocidade.
Por outro lado, o afã irresponsável de queimar até a última possibilidade a madeira, o carvão, o petróleo e os gases de efeito estufa contaminam mares, campos e cidades. O aquecimento global tornou-se, nos dias atuais, um refrão repetido nos bares e feiras livres. Certo, os negacionistas de plantão seguem desprezando os riscos das mudanças climáticas. Mas isso demostra tão somente que a “liberdade individual e de imprensa” de que se valem tais setores, no fundo, não passa de um atestado de ignorância, o qual, infelizmente, conduz muita gente à desinformação.
A terra ferida não pode deixar de ferir e condenar as mais distintas formas de vida (biodiversidade) de que ela é chamada a ser fonte e mãe. A cada espécie de fauna e flora que se extingue, diminui a qualidade de vida do próprio ser humano. São muitas e muito variadas “as feições sofredoras de Cristo” (Documento de Puebla, 31) por causa das mudanças climáticas e seus extremos de frio e calor, de chuva e estiagem. Entre elas, vale destacar os povos originários, os atingidos por longas secas ou inundações, as comunidades ribeirinhas, os pequenos agricultores, os refugiados climáticos que já se contam aos milhões, o povo em situação de rua, as populações periféricas em geral.
Disso decorre a importância da Campanha da Fraternidade de 2025. Com o tema “Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), a Igreja no Brasil é convidada a refletir sobre as chagas vivas do planeta Terra e os dramas das vítimas. Segundo os estudiosos, ainda seria possível reverter os danos dessa gigantesca nave e de seus navegadores. Mas o tempo urge ações imediatas. E estas, embora sejam dever de todos, adquirem responsabilidades diferenciadas de acordo com o poder de decisão e de influência. Concorre para tais ações o Ano Jubilar, no sentido de reconciliar o planeta com a humanidade, não por meio do sistema de exploração, mas de um sistema de cuidado, cultivo amoroso e coexistência harmoniosa – como verdadeiros peregrinos de esperança.