Os filhos e o tempo

O tempo é um dos bens mais preciosos – nele vivemos, nele nos organizamos e ao longo dele construímos nossas vidas. Somos seres temporais: nascemos em um determinado tempo e por aqui estaremos também por um tempo limitado e, embora quase nunca pensemos nisso, não sabemos por quanto tempo estaremos aqui.

Justamente por ser tão valioso, é essencial usá-lo com critério, com cautela, sem desperdício; com agilidade e sem pressa.

Embora vivamos em um tempo histórico, em que tudo se faz com uma rapidez e imediatismo imensos, todos nós nos pegamos investindo tempo em coisas obsoletas, desnecessárias: curiosidades, distrações on-line, cuidando do que está fora do alcance de nossas mãos e perdendo entre os dedos o precioso tempo de convívio. De um convívio que não sabemos por quanto tempo teremos.

Outras vezes, investimos o tempo em atividades edificantes, necessárias, porém perdemos de vista a hierarquia e dedicamos a elas um tempo desproporcional; afinal, existem coisas que têm prazo limitado para que as realizemos e, caso não nos atentemos a isso, dificilmente o resgataremos depois.

Pessoas são formadas na relação com outras pessoas. Filhos são formados na relação com seus pais – no olhar amoroso, na correção firme, na brincadeira que deixa memórias, nos aplausos, nas pequenas e grandes conquistas, nas ações e conversas que forjam e edificam o caráter e infundem valores na alma. Sim, que precioso é o tempo com os filhos – tempo que tem “prazo”, que, sem dúvida, irá se tornando mais raro, mais curto, afinal, eles são feitos para voar. E, muitas vezes, estamos tão distraídos com outras prioridades (sejam obsoletas ou edificantes), que quando nos damos conta, o tempo passou, o filho voou, se distanciou e, o pior: que voo fará? Quem calibrou esse equipamento de voo? Quem preencheu esse espaço reservado a você papai, a você mamãe?

É verdade que são muitas as urgências, que são inúmeros os compromissos e oportunidades que a vida nos oferece; contudo, exatamente por isso, é mais necessário do que nunca reservarmos tempo para a reflexão, para identificar o mais importante a cada etapa da vida, para planejarmos do que abriremos mão ou de como reorganizaremos as prioridades, caso essa missão essencial esteja sendo deixada de lado. O senso de urgência, constantemente nos rouba aquilo que de fato é fundamental. Como os filhos estão sempre ao nosso redor, à nossa disposição, podemos viver a impressão de que amanhã podemos compensar, no final de semana quem sabe, nas férias…. mas a vida se faz no cotidiano, na rotina, na presença, no ordinário e não no extraordinário. Viagens e programas de férias são deliciosos, mas não fundamentais. Já pensaram sobre isso?

Papais, parem, reflitam, construam uma hierarquia de valores, de amores – cuidado para não amarem mais o sucesso profissional, a viabilização de grandes eventos e viagens, o tempo de distração e descanso pessoal, em detrimento do convívio tão necessário ao cumprimento dessa missão maravilhosa que assumiram quando acolheram essas almas preciosas que habitam os seus lares.

Podem ter certeza, há tempo para tudo, ou melhor, há um tempo certo para cada coisa e lembrem-se de um critério tão antigo e tão importante: se seu tempo aqui na terra terminasse hoje, você iria tranquilo sabendo ter feito o melhor pelas pessoas que lhe foram confiadas ou se arrependeria de não ter convivido mais com seus filhos?

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