Pão na mesa de todos

No dia 11 de novembro, abre-se o 18º Congresso Eucarístico Nacional em Recife, depois de ter sido adiado por dois anos por causa da pandemia. A Arquidiocese de Olinda e Recife preparou-se com esmero para promover o grandioso evento religioso, com um congresso teológico com temas relacionados à Eucaristia e muitas celebrações nas paróquias e comunidades de toda aquela Arquidiocese, inclusive com a celebração de primeiras Comunhões. Um grande número de peregrinos deverá comparecer. 

O tema do Congresso – “Pão em todas as mesas” – não podia ser mais atual e se refere, em primeiro lugar, à própria mesa eucarística: todos são convidados para uma participação sempre mais ativa, consciente, plena e frutuosa. A Eucaristia é um verdadeiro tesouro da nossa fé cristã, com muitos significados importantes. Sua celebração ocupa um lugar central na vida da Igreja, de cada comunidade eclesial e, também, na vida pessoal de cada cristão. É preciso valorizar sempre mais a celebração dominical da Eucaristia, que, infelizmente, ainda tem baixa participação entre os católicos, mesmo com celebrações eucarísticas facilmente acessíveis. A Eucaristia é o pão da vida, que não pode faltar na vida do cristão. 

O lema, porém, também remete para o pão de cada dia na mesa de todas as pessoas, uma necessidade e um direito humano fundamental. Atualmente, mais de 30 milhões de brasileiros vivem em situação de fome, e isso não pode nos deixar indiferentes. Não dá para celebrar a Eucaristia e permanecer insensíveis diante da fome, das carências e dos sofrimentos do próximo. Quem participa da “mesa do Senhor”, onde o “pão da vida” é partido generosamente para todos, deve se sentir chamado a repartir o pão de cada dia com aqueles que não o têm. E isso também significa lutar contra o desperdício de alimentos, a produção e a acessibilidade dos alimentos básicos para todos, a promoção de oportunidades para o trabalho digno e a superação de toda forma de injustiça. 

A pergunta que vem logo é esta: que podemos fazer? É verdade que a solução de todo o problema da fome e da pobreza não depende de uns poucos apenas e requer mudanças nas políticas econômicas e financeiras para estimular e priorizar a produção de alimentos. Mas todos podemos fazer algo para acolher e ajudar a pessoa que passa fome perto de nós. É preciso reconhecer que o povo é muito generoso e se mobiliza facilmente para participar de campanhas em situações emergenciais. Nesse sentido, é importante que se promovam muitas iniciativas e organizações locais para agregar a caridade e a generosidade das pessoas que, muitas vezes, só estão à espera de conhecer alguma entidade ou grupo organizado para participarem com suas ajudas. 

Enquanto se celebra o Congresso Eucarístico no Recife, também é celebrado em todo o mundo católico o Dia Mundial dos Pobres, uma iniciativa do Papa Francisco para trazer o pobre e a questão da pobreza ao centro da cena eclesial e social. A existência de tantos pobres entre nós e em todo o mundo levanta um vivo questionamento sobre a economia e a convivência entre os povos. Algo está errado, pois não se trata de carência de recursos nem de alimentos, mas de uma melhor gestão da economia e das relações econômicas e dos alimentos disponíveis, de maneira que haja oportunidades de trabalho, alimento e vida digna para todos. 

O Dia Mundial dos Pobres é uma ocasião especial para promover variadas iniciativas com o objetivo de ouvir os pobres, ir ao seu encontro, compreender suas angústias e necessidades e para envolvê-los em iniciativas que os ajudem a se libertarem da pobreza. Deve ser também ocasião para a reflexão, a partir da mensagem do Papa para essa ocasião: “Jesus se fez pobre por vós” (2 Cor 8,9). Como cristãos, deveríamos estar mais atentos ao exemplo e às palavras de Jesus Cristo do que às teorias econômicas e financeiras, que visam à acumulação e ao lucro. O Filho de Deus, rico de glória e felicidade, esvaziou-se de seu esplendor por nossa causa, fazendo-se solidário com nossa miséria, para nos enriquecer com sua divindade. 

A questão determinante para a superação da pobreza é abandonar a lógica egoísta e individualista, que faz buscar sempre e apenas a própria vantagem e o próprio bem. Fazer-se solidários com os pobres é sentir com eles, trazê-los para o meio das nossas preocupações. Como fez nosso Salvador com a humanidade. 

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