Que há uma crise de autoridade nós já sabemos, e muito se tem dito a esse respeito, afinal seus resultados têm ocasionado um verdadeiro desastre nas famílias e na sociedade.
As crianças sem referências claras vão se tornando ansiosas, desorientadas, agressivas e mandonas – reflexo da falta de segurança em alguém que as direcione.
Os pais, por lidarem com tantos “perrengues” cotidianos, sentem-se exaustos e derrotados: que caos é esse nas pequenas atividades cotidianas – tudo se questiona, a tudo se opõe e parece que cada momento do dia se torna uma batalha sem fim.
Adolescentes que cresceram nessa realidade encontram-se hoje deprimidos, ansiosos, sem encontrar sentido maior para a vida. Jovens não se ajustam em empregos, não se realizam em trabalho algum; afinal: o que buscar? Qual a missão nesta vida?
Perdeu-se o sentido de tradição, de respeito aos outros e de vida em comunidade: “Sou feliz quando faço o que quero, do jeito que quero e quando quero”. Eis um problema: além de insustentável, essa realidade não existe em uma vida ordenada; somente é possível no caos, mas no caos a felicidade não se faz presente.
Na verdade, ao perceberem que a vida é exigente, é feita de momentos fáceis e momentos difíceis, fases de alegria e outras de sofrimento, percebem-se fracos e desmotivados – já não vale a pena viver se não tiverem o prazer em mãos, se for preciso empenhar-se para conquistas demoradas… tudo que traz dificuldade ou sofrimento precisa ser eliminado e, então, faz-se necessário eliminar a vida.
Em minhas buscas contínuas com a finalidade de compreender essa loucura a que fomos nos submetendo como sociedade, deparei-me com um livro precioso que trouxe uma possibilidade de reflexão sobre a virtude da piedade e o quanto eliminá-la da vida das pessoas nos tornou mais egoístas, empobrecidos e vulneráveis a todo tipo de ideologia, de desordem, de inabilidade para a doação radical que nos leva à verdadeira felicidade – a doação de nós mesmos.
Segundo Richard Weaver, em As ideias têm consequências, a perda desse elemento crítico (a piedade) na cultura pode ser o mais fundamental mal-estar da nossa sociedade contemporânea, uma vez que piedade significa dever, amor e respeito devido a Deus, aos pais e às autoridades comuns do presente e do passado. Ou seja, ela leva a uma fidelidade nas relações e a um compromisso com a tradição da pessoa. Santo Tomás de Aquino também escreveu sobre como a piedade nos direciona não somente a Deus como também aos outros: “Assim como pela virtude da piedade o homem cumpre seu dever e presta sua reverência não só para com seu pai da carne, mas também para com todos os seus parentes, pela relação que têm com seu pai, da mesma forma pelo dom da piedade ele presta a reverência e cumpre o seu dever não só para com Deus, mas para com todos os homens devido à relação deles com Deus”. (Suma Teológica, q57).
Portanto, para nós, pais cristãos, é urgente retomarmos a formação de nossos filhos nas virtudes, compreendendo-as e vivendo de modo coerente com elas, se queremos, de fato, conduzi-los a um caminho de verdadeira felicidade neste mundo, rumo à felicidade plena no céu.
Precisamos ordenar a nossa vida e a deles segundo nossa fé e a verdade que nos foi revelada em Jesus Cristo e tão bem explicada e ensinada pela Igreja. É necessário ensinarmos a virtude da piedade, desde o início da vida, afinal, trata-se de direcioná-los segundo uma ordem que mantém o caminho da vida muito mais plano e estável, fundado em verdadeiros valores, que forjam a conduta da pessoa em qualquer circunstância.
Não quero que com isso pareça mais fácil nem tampouco simples a missão educativa na sociedade moderna em que estamos inseridos, mas certamente será menos caótica quanto mais seguros estivermos para conduzirmos nossos filhos pelos caminhos da vida, tendo como base da caminhada as virtudes humanas e sobrenaturais.
Pais, não desprezemos séculos de sabedoria e conhecimento colocado em nossas mãos em lugar de novidades tantas vezes infundadas. As famílias, as crianças e toda a sociedade estão sofrendo com a falta de ordem que tomou conta da vida moderna que busca no conforto e no prazer a realização. Isso precisa ser mudado. Não podemos deixar para amanhã. Coragem!