Que os pais possam ser pais

Aproveitando que ainda estamos em clima de Dia dos Pais, gostaria de chamar a atenção para algo que venho percebendo há algum tempo: muitas vezes, as mães têm tolhido os pais de viverem, a seu modo, esse importante papel que têm na vida da família. 

Vivemos, hoje, uma mentalidade de busca de conforto e bem-estar nas relações, um medo enorme de traumatizar as crianças, surgindo, assim, em meio a tantas preocupações, um apagamento das diferenças entre o pai e a mãe. 

As mães saem para o trabalho profissional, seja por necessidade financeira, seja por realização profissional. O trabalho em casa – cuidado com os filhos, com a própria casa e com a família em geral – fica dividido entre o casal, que precisa pensar em estratégias para que tudo aconteça da melhor maneira possível.  Não há problema que seja assim, desde que as coisas estejam bem planejadas, as prioridades bem identificadas e os papéis bem estabelecidos.

Mais do que nunca é necessário que o casal seja uma equipe de trabalho e, a própria ideia de equipe traz à cena a diversidade – numa equipe nem todos são experts em tudo, mas cada um coloca o seu melhor a serviço do projeto que a equipe empreende. 

Pensar na vida da família pode ter como ponto de partida essa mesma lógica. Existem habilidades e competências mais específicas das mães e outras mais específicas dos pais, pelo próprio fato de serem pessoas diferentes do ponto de vista de sua manifestação sexual.  Não podemos cair na falácia da igualdade ou da diversidade somente cultural. Somos pessoas absolutamente iguais em dignidade, porém, Deus em sua sabedoria criou pessoas masculinas e femininas, e isso traz consequências para a vida, evidentemente. 

O modo de uma mulher e de um homem perceberem e se relacionarem com a realidade, com os filhos e com a vida é marcado por sua corporeidade (hormônios, força muscular, capacidade afetiva, funcionamento cerebral etc.), por sua biografia e sua personalidade. Somos marcados desde o início da vida gestacional por esse traço que é fundamental da nossa constituição pessoal. Como seria possível, então, desprezar tal fato no momento de equalizar as atividades no seio da família?

Trabalhar em equipe significa planejar com sabedoria e prudência o que cabe a cada um segundo as habilidades e modo de ser e, acima de tudo, respeitar o modo do outro de fazer aquilo que foi a ele atribuído. Pais farão de um modo e mães de outro, a mesma atividade e tudo bem, as crianças perceberão e entenderão. Mais do que isso, terão possibilidade de se identificar mais com um modo do que com outro. Conhecerão as manifestações mais próprias dos homens e as mais próprias das mulheres, o que é um grande bem diante de tantas confusões ideológicas que vivemos na pós-modernidade.

O que observo são mães querendo que os pais exerçam como elas as atividades próprias da vida da família e das rotinas das crianças. Fiquem atentas: o importante é que as atividades e rotinas sejam garantidas, que sejam realizadas com dedicação, envolvimento, amor – lembrem-se, porém – cada um a seu modo. Pais terão modos próprios de conduzir essas demandas. 

Quando houver algum ajuste a ser feito, alguma discordância sobre o modo de conduzir as coisas, que a “equipe” se reúna e converse. Discuta os objetivos e veja se estão sendo comprometidos pelos procedimentos, enfim, valorizem os diferentes modos de fazer. O que não podemos é tolher os pais de serem pais a seu modo. Nossas crianças e a sociedade precisam de homens fortes, ativos, que ocupem seu lugar exatamente como são. Homens que tenham coragem de assumir seu papel na vida da família de modo responsável, dedicado, sem se sentirem inaptos diante de tantas críticas que normalmente recebem de suas parceiras.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

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