‘Uma só coisa é necessária’

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM
17 de julho de 2022

A visita de Jesus a Marta e Maria é frequentemente interpretada como a afirmação da primazia da contemplação sobre a ação. Enquanto Marta “estava ocupada com muitos afazeres” (Lc 10,40), sua irmã Maria simplesmente “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra” (Lc 10,39). A primeira mereceu, por isso, uma suave repreensão do Mestre: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10,41s). 

A “melhor parte” da nossa vida de fé não consiste em “fazer” muitas coisas para Deus ou para o próximo, mas sim em estar com o Senhor: ouvi-lo, contemplá-lo e, assim, amá-lo. Esta é, segundo Jesus, “a única coisa necessária!”. Podemos fazer um bom exame de consciência sobre este ponto: afinal, consideramos a oração (“sentar-nos aos pés do Senhor”) e a escuta do Evangelho (“ouvir sua palavra”) como a coisa mais necessária do dia a dia? Consideramos a Eucaristia – na qual temos a presença real de Jesus – como a “melhor parte” da semana? 

Isso não quer dizer, todavia, que as boas obras feitas por amor a Deus e ao próximo não sejam importantes. A ação e a contemplação não se opõem. Ao contrário, o verdadeiro amor é diligente, leva-nos a servir a pessoa amada! Contemplar a Deus por meio da oração é o que nos permite agir bem e dar sentido sobrenatural a todas as nossas obras. Somente a oração assegura que agimos por Deus, não por vaidade, capricho ou outras intenções distorcidas. Além disso, se não praticássemos obras de amor a Deus e ao próximo, nossa oração seria superficial e vazia. Ação e oração – Marta e Maria – devem andar sempre juntas! 

A oração, porém, é o fundamento, pois Deus é o fundamento da existência: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). São Josemaría dizia que o êxito do apostolado depende do respeito à seguinte ordem de prioridade: “Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em terceiro lugar, ação” (“Caminho”, 82). Aqui não se trata de uma escusa para a inação ou de um “providencialismo” ingênuo que pretende que Deus resolva os problemas sem a cooperação dos homens. Ao contrário, quem vê as coisas com realismo sobrenatural reconhece humildemente que somente Deus pode mudar os corações, levando as pessoas à conversão e ao progresso espiritual. Somente Ele pode fazer surgir, em meio a ambientes devastados, pessoas santas e preservadas do mal. E, no entanto, Deus conta com a cooperação de nossas preces, sacrifícios e apostolado. 

A intimidade com Jesus é o fruto da vida de oração intensa. Ela é a única coisa deste mundo que, como diz o Senhor: “Não nos será tirada” (cf. Lc 10,42). Trabalhos, bens, cargos, pessoas, beleza, saúde… Tudo nos será retirado. Até as boas obras cessarão, quando nos faltar a saúde. Mas o amor a Deus – exercitado ativamente na oração – nos acompanhará na eternidade. Ele é o “único necessário”! 

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